Biografias de homens que avivaram a Africa

A paz do Senhor .
É com prazer que ampliamos o conteudo do nosso blog, publicando a biografia de homens que foram usados por DEUS para levar a mensagem do evangelho ao continente africano.
São historias que pelo simples fato de ler, nos motiva e provoca  um grande avivamento em nossos corações , afugentando o desanimo e reavivando a nossa fé.





Lázaro Langa   1904-1994
Igreja do Nazareno -Moçambique




Muzonda Nhacale recusou-se a casar com o Chefe Ngungunyane e fugiu para Inhambane. O seu filho, Rev. Lázaro Thandavatu Langa, nasceu em Nhacale Wutxopi (Distrito de Manjacaze). Era filho do Sr. Samo Muianga Langa.

Um dia quando ele era ainda criança, estava indo ao rio beber, porque tinha sede. À margem do caminho ele reparou três vultos humanos escondidos no mato. Eram ladrões, estes dividiam a carne de Hokoya, o porco do avô dele que eles tinham roubado. Quando os ladrões viram Lázaro, o chamaram e propuseram que ele fosse chamar suas esposas e que estas trouxessem panelas para cozinhar a carne e comer juntos. Ele fez como mandaram, e aproveitou a festa antes de voltar para a casa.

Na manhã seguinte ao nascer do sol ele estava fora de casa chamando por Hokoya. O avô dele disse que sem dúvida o porco tinha sido roubado. Seu avô disse que pediria a Mabongwe, o curandeiro, que preparasse uma poção forte para espargir no chão. Isto faria que todos os que comeram a carne de Hokoya encolhessem e morressem. Lázaro ficou apavorado e confessou finalmente à sua mãe o que tinha feito. Ela o açoitou. Os ladrões foram apanhados, mas ele ficou contente porque ficou livre da maldição.[1]

Lázaro Langa foi tocado pelo evangelho pela primeira vez ainda criança em 1915, quando alguns pregadores que falavam Zulú visitaram a sua vila. Ele queria saber quem era Jesus e de onde Ele tinha vindo, portanto, o rapaz seguiu a um dos pregadores. Este pregador era seu tio, Simão Nhacale; ele mudou-se para Cuaie em 1924. Lázaro entrou finalmente na escola e, quando tinha quinze anos, foi batizado em Mausse depois de provar que podia ler um versículo da Bíblia. Este foi o requisito principal para ele ser batizado. Deram-lhe o nome de Lázaro. Em 1928 ele casou-se com Alina e depois foi para as minas de ouro em Joanesburgo onde se tornou líder da sua igreja.

De novo em casa em 1930, durante uma campanha evangelística em Chidumo, ele ouviu o Rev. João Mazivila falar da necessidade do perdão dos pecados e do batismo do Espírito. Ali, Lázaro Langa encontrou verdadeiramente a salvação. Aos oitenta e sete anos, ele ainda podia dizer: "O nosso quarto, meu e de minha esposa, é um lugar de oração."

Em 1939 ele era o líder da Igreja do Nazareno no West Rand (área de Joanesburgo) e vivia na residência coletiva dos mineiros, que trabalhavam nas minas da City Deep. Ele continuava, porém, a bater nos homens que comandava. Numa ocasião um deles disse-lhe: "Não nos pregue, enquanto continua a bater em nós no interior da mina". Ele orou em secreto por um coração perfeito, para poder dominar a raiva. Certa tarde num culto em City Deep, ele dirigiu-se ao altar; e chorando, pediu a Deus para matar o velho homem no seu coração; Lázaro então, experimentou a purificação e vitória de forma maravilhosa.

O administrador da comuna a princípio hesitou muito antes de autorizar que fizessem cultos. Porém, quando descobriu que Lázaro Langa era o líder da Igreja do Nazareno na área, ele mudou imediatamente de atitude. Disse ao missionário, Rev. Charles Jenkins, "Nkomoyahlaba (a vaca que da chifrada)"[2] Se o que os senhores pregam pode fazer dos outros o que fez deste homem maravilhoso, vocês têm a permissão de ir e vir livremente."[3]

Quando o Sr. Langa voltou para a casa em 1940, o Rev. Paulo Sueia pediu-lhe que começasse uma igreja em Manguenhane, perto de Manjacaze. Em 1950 como líder geral do trabalho nas minas, ele foi o primeiro a visitar as minas no Estado Livre de Laranjeiras e estender a igreja para ali. Em 1961 ele foi ao Colégio Bíblico em Tavane onde ficou dois anos e foi ordenado em 1963 pelo Superintendente Geral Rev. G. B. Williamson. Como um dirigente na Zona Macuacua na Província de Gaza, ele costumava viajar de burro, porque havia tanta areia que a bicicleta não dava. Ele tornou-se dirigente da Zona Alta do Changane, no Distrito de Manjacaze.

Certo dia, enquanto viajava através duma floresta densa, um macaco bloqueou o caminho e assustou o burro. Este saltou e correu. O Sr. Lázaro Langa caiu e partiu uma perna. Sozinho no mato, gritou pedindo socorro. Finalmente algumas mulheres o encontraram e o levaram para casa. Muitos oraram por ele, mas a sua recuperação levou meses no hospital em Maputo. Ele era um grande evangelista e pregava sempre a santificação plena, e a necessidade da morte do velho eu.[4]

Depois de se aposentar em 1973, o Rev. Langa cuidou da igreja de Laranjeiras por algum tempo. Durante a guerra civil, o ataque na Aldeia de Laranjeiras em Junho de 1986 deixou a família em grande luto. O filho dos Langa foi morto. A esposa do seu neto teve uma perna cortada. Os atacantes então raptaram quatro dos seus netos e dispersaram a família.[5]
Paul S. Dayhoff


Notas:


1. O. e M. Stockwell, The Ant Sends The Elephant: Parables and Sermon Illustrations from Mozambique, (Hampton, NH: Yankee Printer, 1989), 79-81.
2. Prof. Leonard Sibandze, "Swaziland Annual Assembly Report," Mutwalisi (O Arauto), revista na língua Tsonga da Igreja do Nazareno em Moçambique e África do Sul, (Florida, Transvaal, África do Sul: Nazarene Publishing House, Fevereiro-Junho 1955), 55.
3. Carta do William Esselstyn, Rockton, Ill., (Junho 17, 1995).
4. Vicente Mbanze, fita do Lazaro Langa, 1992.
5. Rev. Lazaro Langa, "Testimony" ("Testemunho"), Mutwalisi, (Dezembro 1987), 3.


Este artigo é reproduzido, com permissão do livro Living Stones In Africa: Pioneers of the Church of the Nazarene, edição revisada, direitos do autor © 1999, por Paul S. Dayhoff. Todos os direitos reservados.

Este artigo foi traduzido da língua inglesa por Rev. Roy Henck, missionário reformado para Cabo Verde, e por Rev. António Barbosa Vasconcelos, pastor cabo verdiano. 





Mashaba, Robert Ndevu
1861 a 1935
Metodista
Moçambique/África do Sul


Mashaba era membro do clã Ronga, e foi pioneiro no trabalho da Igreja Metodista Wesleiana em Moçambique.

Ele nasceu depois de 1850 num lugar chamado Ntembi próximo da Bahia de Delagoa, onde hoje existe uma igreja em sua memória. Os seus pais seguiam a religião africana tradicional. Ele não freqüentou a escola, pois não havia nenhuma onde ele morava. O seu primo tinha estado em Durban e ao retornar a Moçambique, disse ao seu pai, que era caçador, que no futuro ele seria um agenciador de produtos de caça e conseguiria um preço justo pelos produtos que o pai vendia. O jovem Mashaba sonhava com ir para Durban também.

Assim que teve suficiente idade, Mashaba viajou com o seu tio para o sul e conseguiu um emprego na Bluff Naval Station em Durban. Mais tarde ele conseguiu emprego no Point, um desembarcadouro de navios que não podiam passar a barra na entrada do porto. Logo ele percebeu que precisava estudar para melhorar no seu trabalho. Freqüentou uma escola noturna atendida por missionários. Aprendeu seu ABC, leitura básica e a dizer o Pai Nosso.

Por volta de 1875 ele soube por outros trabalhadores que em Port Elizabeth ele poderia ganhar mais dinheiro e havia melhores oportunidades de estudo (Choate's papers). Ele viajou para Port Elizabeth, possivelmente de navio que era a forma mais barata de viajar e encontrou um novo emprego lá. Começou uma amizade com Penny Pikisana, que o persuadiu a freqüentar os cultos da Igreja Metodista Wesleiana. Na congregação local ao norte da Estrada Russa. Ele foi relutante, mas ficou fascinado pela Bíblia.

Numa tarde, quando estava caminhando num morro próximo de Port Elizabeth, ele teve uma visão. Ele viu uma chama viva num lugar onde não tinha sido feito fogo. Então ele escutou uma voz que disse: "- Ora." Ele caiu de joelhos e ficou muito assustado. A mesma coisa aconteceu no dia seguinte. Ao aproximar-se do fogo, viu que não havia nada ali. Ele novamente caiu de joelhos e começou a orar. Mashaba se juntou à Igreja Metodista, e foi batizado pelo Rev. Robert Lamplough, cujo nome ele adotou.

Ele resolveu estudar em Lovedale, mas somente depois de alguns anos de privação conseguiu economizar quarenta libras, e em 1879, realizou o seu sonho. Durante as férias, trabalhava em Port Elizabeth para poder pagar os seus estudos. Também recebeu uma bolsa de estudos. Depois de três anos em Lovedale, a instituição lhe conseguiu um emprego como mensageiro no Departamento Telegráfico Kimberley. O seu contrato terminou em 1885 e ele retornou a Moçambique.

Mashaba começou uma escola e cultos regulares. A Igreja Católica Romana o instou a ajuntar-se à "única igreja verdadeira", mas ele se recusou. Então, ele foi proibido de continuar com a escola no mesmo horário dos católicos, e sendo assim, ele tinha as suas aulas pela tarde e freqüentava a escola católica pela manhã. O Bispo Mackenzie da Igreja Anglicana quis substituí-lo no seu trabalho, mas ele também recusou a proposta. Mashaba teve que conseguir um emprego no Komati Drift quando o seu dinheiro acabou. Ele escreveu para Imvo, o jornal Africano da vila de King William, e disse que se os metodistas não o ajudassem, ele teria que aceitar a oferta do Bispo Mackenzie. O sínodo natal, respondeu enviando a William Mtembu, para fazer uma investigação. Mtembu batizou alguns dos convertidos e convidou Mashaba a visitar o sínodo em Durban. No entanto, o Sínodo Natal, decidiu que Moçambique pertenceria ao Sínodo Transvaal. Em 1892, Mashaba foi visitado pelo Rev. Daniel Msimang e pelo Rev. George Weavind e foi persuadido a candidatar-se ao ministério.

Os problemas já tinham começado a aparecer em Moçambique. Em 1894 houve alguns levantamentos, e dois anos mais tarde, estourou a revolução. Mashaba foi acusado falsamente de ser um dos líderes da revolta. Foi capturado, e enviado à prisão nas Ilhas de Cabo Verde. Ele conseguiu enviar uma carta de contrabando para as autoridades metodistas. Ele também escreveu para o Christian Express em Lovedale pedindo ajuda. De Cabo Verde, Mashaba escreveu para um amigo e contou a sua história: "-O Chefe Mamatibjana, que estava lutando contra o governo português, foi preso e obrigado a identificar quem o ajudou de uma lista de nomes que lhe foi apresentada. Quando mencionaram o meu nome, ele disse: '- Esse foi o homem que me mandou lutar contra o governo. '" (Notificações 1896, 146). "Fui preso e 'um policial me bateu até que eu falasse o que ele achava que era verdade.'" No dia seguinte, ele foi colocado no navio África, que estava na rota de prisão de Cabo verde.

As autoridades metodistas usaram toda a sua influência para libertá-lo. Depois de quatro anos, eles conseguiram, com a condição de que ele jamais retornasse a Moçambique.

Depois do seu retorno, Mashaba trabalhou em Germiston e Pimville. Ele foi ordenado ao ministério e serviu em diversos comitês. Uma das suas maiores contribuições foi a tradução de mais de cem hinos, para a língua Tsonga. Pouco tempo antes de sua morte, lhe permitiram retornar a Moçambique, não para trabalhar, mas para passar os seus últimos dias na terra em que nasceu.
J. A. Millard

Bibliografia:
Choates, D. Private Papers.
Harries, P. Work, Culture and Identity: Migrant Labourers in Mozambique and South Africa c. 1860-1910. Joanesburgo: Witwatersrand University Press, 1995.
Minutes of the Transvaal and Swaziland District Synod 1892, 1896.
Stewart, J. Lovedale Past and Present: A Register of Two Thousand Names. Lovedale: Lovedale Press, 1887.
Notificações da Sociedade Missionária Metodista Wesleiania, 1896.



Este artigo foi reproduzido com a permissão de Malihambe - Let the Word Spread, copyright © 1999, por J. A. Millard, Unisa Press, Pretoria, África do Sul. Todos os direitos são reservados.





Mengwelune, Lydia
n. 1886 f. 1966 

Igreja Evangélica de Camarões
Camarões

Lidia Mengwelune destaca-se dentre todos os cristãos fruto do trabalho da Missão Basiléia na região de Bamoun (1906-1915) durante o período colonial alemão, assim como aqueles provenientes da atividade da Sociedade Missionária Evangélica Francesa de Paris (1917- 1957). A sua vida e a sua conversão a Fé Cristã tem sido mostrada nos escritos de vários missionários, mais do que qualquer outro crente desta mesma região. Apesar de que a igreja nesta época estivesse cheia de convertidos respeitáveis, anciãos, catequistas, evangelistas e pastores, nenhum deles teve a história da sua vida publicada em livros ou ilustrada em revistas e nenhum deles foi motivo de cartões postais que circulavam tanto em Camarões como na Europa. A sua figura emblemática numa época em que a voz das mulheres era ignorada brilha como um relâmpago na escuridão, com um brilho que instantaneamente acendeu a corte do rei Njoya em Foumban e a nobreza de Bamoun em Nji Wamben. A sua luz queimava com brilho, iluminando uma trilha pelas áreas rurais e as ruas da cidade como uma evangelista notável que proclamou as boas novas do amor em Jesus Cristo. Quem era esta mulher?

Sua Infância

Lydia Mengwelune era filha de Njo Mofen e Mandu [2], e nasceu no bairro de Njiyoum em Foumban. O seu pai era um homem nobre que era o chefe encarregado de todos os servos de No Permboura, a irmã de Ngungure, que era a mãe do Rei Nsangou, o que por sua vez era o pai do Rei Njoya. A sua mãe, Mandu, era a prima do Rei Njoya pela linha paterna. O nome Mengwelune que é composto de duas palavras: Mengwen, que significa "eu estava indo" e lutne, que significa "regozijar-se", teve um grande impacto no caráter dela, como freqüentemente acontece com os nomes. O primeiro impacto foi negativo, pois tem a ver com a sua vida de sensualidade com o rei, mas o segundo foi positivo, o qual tem a ver com a sua jornada com a Fé Cristã. Lydia foi a segunda filha de sua mãe, a qual teve dezessete filhos, dos quais somente um era menino. Este filho único era a materialização da esperança de Nji Mofen no que refere-se à linhagem que deixaria depois da sua morte. Lydia teve uma infância pacífica e os pais dela se alegravam com ela mais do que com os outros filhos.

Sua Juventude

Lydia era uma menina muito bonita. Ainda muito jovem, e de acordo com os costumes daquela época, foi dada como noiva a Bankumbu, o qual era um chefe guerreiro do Rei Njoya. Sendo que ainda não tinha atingido a idade requerida para casar-se, lhe permitiram (de acordo com a prática costumeira daquela época) fazer parte do harém das noivas e passar o seu tempo lá. O seu futuro marido, que tinha começado uma campanha contra o rebelde Primeiro Ministro Gbetkom-Ndombue, no frente em Mangam naquele momento, a levou com ele. Aquela guerra durou por dois anos e só terminou quando a cavalaria do povo Fula de lamido [3] de Banyo veio auxiliar o Rei Njoya e finalmente o ajudou a vencer o rebelde e restabelecer a paz.

Durante a viagem de retorno, Bankumbu, quem alimentava um antigo desprezo pelo rei, decidiu voltar para a sua vila nativa de Mfowuon, em lugar de dirigir-se para a capital Foumban e assumir a sua função como súdito do rei. Ele pediu que Lydia o acompanhasse, mas ela negou-se a ir, sob o pretexto de que a viagem era muito difícil. Bankumbu foi para a sua terra natal e viveu lá por certo período, sem responder às muitas solicitações do rei, para que voltasse à capital de Foumban. Finalmente fez a viagem de volta, e estabeleceu-se pacificamente nos seus aposentos em Foumban. No entanto, o rei descobriu que ele era parte de um grupo que estava tramando contra ele. O rei mandou matar Bankumbu, apesar de este ter sido o general de seu exército por muito tempo e tendo-lhe protegido de ataques múltiplos e variados. Na sua raiva, o rei não somente mandou matar o seu general, mas também a mãe e o irmão de Bankumbu, todos no mesmo dia. Toda a cidade de Foumban ficou terrivelmente comovida com essa matança.

Lydia não tinha ainda se recuperado da dor e do medo causado por esta separação brutal do seu noivo, quando outra tragédia, ainda mais violenta, atingiu toda a sua família. Seu pai, Njo Mofen, foi acusado de ter matado o seu vizinho. A acusação veio do supervisor da região de Bamoun que consultou uma aranha armadeira, a qual se acreditava que tinha o poder de revelar segredos. Após escutar sobre o assunto, o rei pronunciou um veredito sem direito a apelação, e o sentenciou sumariamente à forca; a sentença não estava de acordo com a legislação vigente da época. Como resultado deste julgamento e execução, Mandu, a sua filha Lydia, o seu único filho, todos os outros filhos, e as outras esposas de Mofen foram banidos, e corriam o risco de ser vendidos ou distribuídos a qualquer um de acordo com a vontade do rei. No entanto, No Njapdunke, a Rainha Mãe do Rei Njoya, intercedeu por Mandu, de modo que ela e os seus filhos, assim como todas as posses de Nji Mofen não fossem afetados. Ela conseguiu fazer isto, devido a sua relação familiar com o rei. Ela conseguiu que o único filho de Nji Mofen o sucedesse, de modo que ele sempre fosse lembrado. Para confortar Mandu, No Njapdunke, freqüentemente a convidava a passar um tempo com ela, apesar de tudo que tinha acontecido com o seu marido. O rei, sabendo que ele deveria ter interferido, arrependeu-se do seu julgamento às pressas, mas ele agiu de acordo com os seus direitos à luz dos seus poderes. Assim mesmo, Mandu não era um parente de sangue, próxima do rei? Ela teve que esquecer o passado e olhar para o futuro. No Njapdunke cuidou das necessidades de Mandu e de seus filhos. Lydia acompanhava a sua mãe quando ela fazia as suas visitas ao palácio. No Njapdunke notou a sua beleza e a sua inteligência e pediu a sua mãe se poderia mantê-la no palácio e cuidar da sua educação, como compensação e consolo para ela. Mandu aceitou agradecida.

Bailarina do Rei

Enquanto vivia no palácio, Lydia recebia todos os benefícios de estar sob os bons cuidados de No Njapdunke. Recebia presentes de todo tipo: roupas, calçados, ornamentos, óleos de beleza... e inclusive uma dieta especial, posto que estava sob a proteção da Rainha Mãe. Não tinha necessidade de nada. Ela era muito simpática, cortês e inteligente. A sua beleza era motivo de comentários em todo o palácio, entre as esposas do rei, entre os serventes e entre os plebeus que vinham ao palácio a negócios. Todos ficavam impressionados pelo frescor da sua beleza natural. A quem ela pertencia? Quem se atreveria a falar com No Njapdunke e pedir a sua mão? Todas as atenções ambiciosas de muitos homens jovens e nobres esbarravam na presença da Rainha Mãe. De fato, ela era mais temível que o seu filho, o rei. Assim mesmo, inocente como sempre, a presença de Lydia Mengwelune continuava a brilhar perante todos, tanto quanto uma lua clara brilha numa linda noite estrelada. Sendo que o rei visitava a sua mãe Njapdunke todos os dias, ele logo percebeu a incrivelmente bonita Lydia, e começou a amá-la, apesar da interdição de tais coisas dentro do contexto da família estendida. Apesar da primazia que o rei tinha sobre as instituições do povo Bamoun, ele não poderia casar-se com ela, pois seria acusado de incesto. Mesmo assim, ele não conseguiu resistir à intensa e sedutora beleza e inteligência de Lydia Mengwelune. Por esta razão, a sua mãe lhe aconselhou a tê-la como sua concubina. Por acaso todos os homens não tinham concubinas? Quem poderia acusar o rei por isso?

Deste modo, Lydia tornou-se amiga do rei, em detrimento de todas as suas esposas. As mulheres deste grupo que tinham sido amigas do rei começaram a desprezá-la. Lydia dava prazer ao rei sempre que ele solicitava. Em troca, ele lhe deu tantos presentes, que todas as suas esposas ficaram com ciúme. Assim como as outras concubinas reais, Lydia tinha os seus aposentos numa casa ao lado do palácio. Homens de limitados recursos podiam ter relações com estas concubinas de forma clandestina. Lydia, no entanto, recebia toda a atenção do jovem rei. Ele especialmente gostava de conversar com ela, porque tinham mais ou menos a mesma idade. Sendo que o rei era seu amigo, Lydia se sentia a vontade de confrontá-lo e trazer a tona muitos questionamentos da vida em suas discussões. O rei se deleitava com a companhia dela.

Lydia não era somente bonita, mas também sabia como dançar, e a arte de dançar era muito admirada pelo povo Bamoun naquela época. A sua silhueta e os seus gestos cativaram totalmente o rei quando ela dançara certas danças. Para acrescentar o seu prazer, o rei Njoya a convidou a dançar uma nova coreografia com ele, usando uma máscara. A combinação da música cantada e a coreografia dos seus passos que dançaram juntos permitiram que o Rei Njoya e Lydia alcançassem um clímax na sua relação sensual. Em alguns momentos, o rei não conseguia esconder o seu desejo pela jovem mulher que não era a sua esposa, mas que era a que lhe dava a satisfação emocional que ele precisava. Ao dançarem, exclamações de aprovação ouviam-se da multidão em Bamoun: "A pu tetune!" ("Isso é muito bom!").

As exclamações de aprovação deles foram ouvidas por última vez, apesar de que ninguém estava consciente disso naquele momento. Uma sucessão de eventos ocorreu no reinado, eventos que afetaram todo mundo. Lydia Megwelune, a dançarina do rei, ia deixá-lo para sempre e encontrar felicidade verdadeira nas coisas do Reino de Deus. Ela deixaria os prazeres que desfrutava com o Rei Njoya para abraçar a alegria de Jesus Cristo, o Rei dos Reis, Senhor dos Senhores.

Uma Serva Livre de Jesus Cristo

Enquanto ela morava no palácio, o qual era o epicentro de todas as instituições reais, e o lugar onde todos os problemas que tinham a ver com o povo Bamoun eram tratados, Lydia tinha uma posição privilegiada: ela era a principal confidente do Rei Njoya. Ele lhe contava tudo, e discutia todos os assuntos com ela. Eles tinham conversado longamente sobre a ajuda da cavalaria de Fula que viera do chefe Banyo, durante a insurreição do Primeiro Ministro Gbetkom-Ndombue, e também conversavam sobre os brancos que tinham chegado com os seus soldados, assim como os mercadores brancos que chegaram mais tarde. Na verdade, os alemães queriam colaborar com o Rei Njoya, e se aproximaram dele como oferta de relações amigáveis. O empregado de um desses mercadores, chamado Samé, tinha falado sobre o Deus que tinha enviado o Seu filho para salvar o mundo. Ao escutar essas histórias estranhas, o Rei Njoya chamou o homem e interrogou-o seriamente sobre esta mensagem. Ele também transcreveu estas histórias para a língua Shumon. O Rei tinha tanto interesse em saber sobre este Deus, que ofereceu dinheiro a Samé para que pudesse ficar e ensinar o povo Bamoun. Ele rejeitou a oferta e disse que os mensageiros de Deus viriam algum dia. Samé foi embora e ninguém sabe de onde ele veio.

Mais tarde, dois jovens do povo Bamoun, chamados Mah e Nguin, que tinham ido a Bali para visitar a família, ficaram e estudaram lá. Além de aprender a ler e escrever, eles aprenderam as maravilhosas histórias da palavra de Deus. Quando eles voltaram a Foumban, contaram às suas famílias sobre o que tinham aprendido, e as histórias circularam até chegarem ao Rei. Depois de escutar estes jovens e tendo sido tocado pelas histórias que eram desconhecidas entre o seu povo, o Rei enviou a dupla novamente a Bali para perguntar aos brancos se eles viriam e ensinariam essas histórias ao povo Bamoun.

No dia 10 de abril de 1906, um pastor alemão da Missão Basiléia, chamado Martin Gohring, chegou a Foumban, em resposta ao pedido do Rei. O entusiasmo que isto causou, era sentido em toda a cidade. O Rei Njoya lhes deu o monte mais alto na cidade em Njisse. Ele rapidamente construiu moradias e uma escola, assim como a Nda Nyinyi (a casa de Deus), "a igreja", construída no mercado central. O próprio Rei escutava atentamente as mensagens. Ele também mandou que as suas esposas e as suas filhas participassem das reuniões regularmente. Rhein-Wuhrmann explica o que aconteceu a seguir: Mengwelune, a amiga do rei, também foi. Mais que todas as outras mulheres, ela foi tocada pelo que escutou. Pouco tempo depois, o rei percebeu que uma grande mudança estava acontecendo no coração da jovem mulher. Ela não o procurava com tanta freqüência como anteriormente. Muitas vezes ficava sozinha, perdida em seus pensamentos, chorando. Ela jamais perdia um culto, mas pouco a pouco ela estava se afastando do rei.

Um dia, ela apresentou-se ao rei e humilde e firmemente lhe disse: "Eu tenho ido aos cultos dos Cristãos, todos os dias que eles chamam de domingo. Eles dizem muitas coisas boas, e as suas palavras entraram no meu coração. O Deus deles diz: 'Felizes aqueles que têm um coração puro, ' mas eu não tenho um coração puro, e eu tenho feito muitas coisas erradas. As esposas do rei me odeiam, e elas têm razão. Eu não posso mais ser amiga do rei. Por favor, me entregue em casamento a um bom homem!"

Isto caiu como um golpe cruel ao Rei Njoya. Ele implorou e rogou à Lydia que voltasse atrás, deu muitos presentes e carícias, mas nada podia mudar a sua decisão. Os esforços do rei não atingiam a jovem mulher, porque a sua alma estava atormentada em vista da nova mensagem que ela tinha escutado. O rei achava que não tinha perdido a batalha ainda, e que as mudanças que estavam acontecendo com a sua amiga eram sentimentos passageiros de mulher. Ele ficou realmente surpreso e desiludido, quando Lydia lhe disse que ela queria tornar-se Cristã, e que estava tendo aulas de catecismo e se preparando para o batismo. [4]

A Luz chega à Nji Wamben

Lydia Mengwelune tornou-se a 31ª esposa de Nji Wamben, um homem nobre que estava a serviço do rei. Ela era um presente fino, e o seu esposo acreditava que ela o ajudaria a ficar mais próximo do rei, visto a sua descendência real e a sua história passada com o rei. Nji Wamben a encheu de presentes e lhe deu a posição mais alta entre todas as suas esposas. Ele adorava tê-la ao seu lado quando ele não estava a serviço da corte, porque a sua beleza e a sua inteligência, assim como as suas outras qualidades contribuíam para aumentar o respeito que ele já tinha. Ele sabia que a sua esposa tinha adotado a fé cristã, e lhe permitia participar dos cultos, apesar de que ele mesmo não participava. Ele acreditava que com o tempo o seu entusiasmo desapareceria.

No entanto, Lydia já era catequista na escola em Njisse, e estava crescendo rapidamente na sua fé. Quanto mais ela entendia, mais ela permitia que as velhas práticas que não estavam em acordo com a Palavra de Deus desaparecessem, tais como: ofertar sacrifícios para os mortos e matar os indefesos camaleões, que de acordo com as crenças Bamoun, eram vistos como mensageiros da morte. Ela perdeu o medo do poder da aranha armadeira, crença que tinha causado a morte do seu pai. Ela não tinha mais temor dos espíritos, dos curandeiros e do olho gordo. Deus agora estava a cargo da sua vida. Os seus contemporâneos e aqueles que foram batizados com ela, contam que a sua fé e o seu amor eram muito intensos. Quando era bem jovem e ainda morava com a sua mãe ela teve um sonho, o qual ela só entendeu o significado agora que estava vivendo como Cristã.

Todo o progresso na sua vida espiritual e o conhecimento que ela adquiria no catecismo levou-a a estar entre os primeiros 80 candidatos a batismo do povo Bamoun, membros da classe de 166. Foi nesta ocasião do batismo que recebeu o nome de Lydia, pois ela também podia dizer: "O Senhor abriu meu coração." Ela foi batizada como Lydia Mengwelune, em 25 de dezembro de 1909, pelo Pastor Martin Gohring.

Perseguição e Testemunho

O esposo de Lydia, Nji Wamben, começou a ficar incomodado pelo compromisso que a sua esposa estava tendo com a fé cristã. Ele lhe rogava serenamente, dizendo: "Por favor, não me cause tristeza e vergonha; não abandone os costumes dos nossos pais." [5] O Rei Njoya começou a incitar Nji Wamben para que atormentasse a sua esposa. Ele começou a tratar a sua fiel esposa com crueldade, e progrediu de simples reprimendas e humilhações a ameaças e tortura física. Ele forçou Lydia a mudar-se da sua maravilhosa casa e lhe deu uma choupana de servos para viver. As outras esposas começaram a rir dela, e a tratavam com desprezo. O sue direito de receber ajuda dos escravos lhe foi retirado, e o seu esposo não lhe dava nenhuma atenção, a não ser para chamá-la para despejar a sua raiva sobre qualquer evento que fosse considerado sua culpa. Ele a agrediu com tanta violência que lhe deixou cicatrizes permanentes. Lydia sempre foi uma menina mimada e jamais tinha sido tratada de modo tão terrível.

Lydia suportava as provações como se carregasse a sua cruz, encontrava conforto e consolação na Palavra de Deus. Até o ponto que as suas condições de vida tornaram-se insuportáveis. Ela foi falar com a Sra. Rhein-Wuhrmann, uma das missionárias, e lhe disse: "Receba-me como sua servente, eu não agüento mais viver com meu esposo." [6] A missionária lhe disse que honrasse a sua fé cristã nas circunstâncias em que se encontrava, e que Jesus a ajudaria muito mais que ela própria poderia ajudá-la. A missionária foi falar com o marido de Lydia, Nji Wamben, e percebeu que ele ficou muito envergonhado por amar a sua esposa, mas odiar o Cristianismo. Pressionado por outros nobres, ele continuou a destratar Lydia. A Sra. Wuhrmann escreveu: "Todos nós da missão, sentiamos muita pena de Lydia, porque éramos testemunhas impotentes da sua situação, e ela sofria terrivelmente." [7]

Durante a I Guerra Mundial (1914-1918), os missionários alemães foram levados de Foumban acorrentados, escoltados pelos ingleses. Lydia perdeu o apoio que tinha da Sra. Rhein-Wuhrmann, a sua conselheira e amiga. Ela chorava dizendo: "Eu estou como uma órfã agora, uma órfã!" "Deus é o nosso Pai, querida Lydia, e Jesus o seu conselheiro," respondeu a sua querida amiga. Com este diálogo, a Sra. Rhein-Wuhrmann e Lydia, duas discípulas de Cristo, foram separadas. [8]

Os dois anos que se seguiram à partida dos missionários (1916-1918), foram cada vez mais difíceis para a pequena comunidade Cristã em Foumban, uma perseguição seguia-se a outra. O Rei Njoya declarou a prática da fé Cristã ilegal no seu reino, e se converteu ao Islã. Exigiu que todos os seus súditos se tornassem muçulmanos, assim como ele o tinha feito. Esposos muçulmanos, assim como Nji Wamben e Nji Mama -esposo de Shachembe Marguerite, amiga de Lydia- que tinham altas posições na corte real, tiveram que perseguir as suas próprias esposas cristãs para poder manter o favoritismo do rei. Em várias ocasiões as igrejas foram atacadas por estes oficias cujas esposas foram levadas de forma violenta. Em outra ocasião, os próprios soldados do rei executavam as suas ordens. Apesar do seu próprio sofrimento, Lydia procurava outros perseguidos e os confortava e encorajava. Ela suportava humilhação no seu próprio ambiente, e a sua vida era a sua confissão de fé. Através do seu testemunho, outras esposas do seu marido adotaram a fé em Jesus Cristo.

No livro de Alexandra Loumpet-Galitzine, Njoya e o Reinado Bamoun, a autora da biografia de Lydia, escreve:
A sua fé a o seu amor pelo Salvador estavam muito vivas. Ela foi um exemplo para as outras esposas. Lydia amava o seu marido e não aprovava nenhum tipo de desobediência por parte das outras esposas. O seu caráter cristão firme silenciava as outras esposas. Quando ela voltava do culto, ela reunia todas as esposas e lhes falava sobre Cristo que morreu pelos pecados de todo mundo... Ela também dava bons conselhos para todo o povo que trabalhava para o chefe. O chefe, que era um muçulmano, viu o seu bom comportamento e o seu bom exemplo e permitiu que todos fossem às reuniões Cristãs. No domingo, um grande número de homens e mulheres podia ser visto indo para a igreja, guiados por esta brava discípula do Senhor. [9] Tais relatos de testemunhas oculares, vinham de outros também, não somente dos Cristãos. Nji Wamben também percebia a boa influência que Lydia tinha nos seus assuntos, porque o espírito Cristão começou a influenciar todos os aspectos das vidas das suas esposas, que também eram mães e donas de casa. O seu comportamento para com a sua esposa cristã Lydia mudou, e permitiu outras de suas esposas freqüentassem o catecismo pré-batismal. Um dia ele disse para a Sra. Wuhrmann: "Desde que as minhas esposas se tornaram cristãs, ou começaram a freqüentar o ensinamento para o batismo, a vida na minha casa mudou muito. Não escuto mais brigas, somente o canto alegre, e o trabalho é bem feito pacificamente. Enfim, tudo é melhor do que era." [10]
Assim é como Lydia, uma esposa Cristã perseguida, mudou a visão e as crenças do seu marido Nji Wamben, das suas esposas, seus filhos e seus servos. Eles antes seguiam as religiões tradicionais, depois se tornaram muçulmanos, e finalmente, graças à luz de Cristo, se tornaram Cristãos.

Anciã na Igreja

A organização da igreja feita pelos missionários alemães não constava de diáconos, anciãos, evangelistas e muito menos pastores. A sua organização contava com discípulos, supervisores e catequistas que deveriam ir, pregar e ensinar. Mais tarde, a Missão Paris, estabeleceu-se naquela região e enviou o Pastor Elie Allégret, que visitou Foumban pela primeira vez em 1917. Após a primeira visita, ele enviou um homem do povo Douala chamado Max Mpacko que foi o primeiro professor formado, no lugar. Foi este homem brilhante que ajudou a igreja -uma igreja que surgiu vitoriosa da perseguição- a organizar-se, escolhendo anciãos. Um total de oito anciãos foram escolhidos para uma comunidade de 300 almas. Quatro homens e quatro mulheres foram escolhidos, sendo que Lydia era uma delas, que certamente foi escolhida pelo seu testemunho. A Sra. Wuhrmann escreve: "Que dia inesquecível foi quando os cristãos mais influentes: Mose Yeyap, Josué Muishe, Jean Njikam e outros chamaram a Lydia para sentar-se com eles como uma anciã da igreja! Uma mulher sentada no conselho dos homens! Com os mesmo direitos de voto, nada menos! Uma mulher, uma criatura tão desprezada entre os pagãos! Foi incrível! Mas estes líderes da comunidade tiveram um bom julgamento e fizeram uma boa escolha." [11]

Como anciã Lydia foi uma excelente professora na Escola de Meninas em Njisse, onde foi assistente da Sra. Wuhrmann. Além disso, fosse em casa ou em outro lugar, ela sempre era encarregada de bons trabalhos e do cuidados dos destituídos.

Professora na Escola de Meninas

Aproveitando a sua nacionalidade suíça, a Sra. Wuhrmann retornou a Foumban através da missão Paris em 10 de julho de 1920, depois da guerra. Ela reorganizou a escola que até então tinha sido chefiada por Paolo Pepuere, um dos irmãos do Rei Njoya. Sendo que os maridos não cristãos não queriam que homens ensinassem as suas esposas, a carga de trabalho da Sra. Wuhrmann aumentou muito. A matrícula quadriplicou, passando de 80 estudantes para 320. Ela escreveu: "A classe era formada por um grupo muito heterogêneo: mulheres velhas, cansadas e desgastadas; mulheres jovens, cheias de vida; mulheres bonitas da corte do rei; e as bem pobres que foram criadas em choupanas miseráveis de escravos. Praticamente todas elas queriam ter contato com Jesus... Eu não tinha o tempo necessário para cuidar de todas estas mulheres fora da hora da lição, e nem que quisesse não podia fazê-lo. A minha querida Lydia, que era uma das anciãs da igreja, me ajudou cumprindo turnos de quatro horas." [12]

Varios testemunhos escritos da época atestam que Lydia devotamente cumpria com seu trabalho. Charles Maître, num comentário que suplementa um trabalho com 85 imagens que mostra o trabalho em Camarões de 1924 até 1925, diz o seguinte sobre a imagem número 70: "Lydia, uma de nossas bravas cristãs. Pode-se ver o estilo de cabelo, as tatuagens, os adereços nas orelhas, as duas moedas de três marcos; mas o que não se pode ver é a fidelidade e a devoção desta brava mulher que agora é a supervisora da escola de meninas." [13] Quando a Sra. Wuhrmann foi embora de Fouban depois de seu segundo período missionário, ela deixou todo o ensinamento catequético nas mãos de Lydia. No seu livro "Retrato das mulheres de Camarões", publicado em 1931 ela menciona o fato de que Lydia tinha assumido essa tarefa. Por um longo período Lydia continuou a ensinar a fé a várias gerações de mulheres cristãs de Bamoun cujas vidas foram transformadas e que influenciaram nos seus casamentos, nos seus filhos e na sua sociedade.

Evangelista Itinerante

Lydia também foi escolhida como uma das anciãs por exercitar o dom da evangelização. Jean Njimonia escreve: "Ela se tornou uma anciã porque ela amava servir. A igreja tem tido mulheres anciãs e ainda tem, mas Lydia foi uma anciã por excelência. Ela visita as igrejas da região e dá bons conselhos aos catequistas e aos Cristãos também. Ela sabe como confortar irmãos que estão aflitos. Ela alimenta as crianças órfãs que recebeu por livre e espontânea vontade. Ela ensinou as esposas de muitos catequistas. A Sra. Rhein-Wuhrmann ama ela mais do que qualquer outra coisa; ela a chama de minha amiga, o que é realmente uma verdade." [14]

Esse testemunho de um missionário nativo, e de outros missionários, demonstra que Lydia estava comprometida coma pregação das Boas Novas não somente na sua própria casa e na igreja local, mas muito além. Ela tinha uma visão ampla do ministério que lhe foi confiado. Nas palavras do Sr. Jesus: "A quem muito lhe é dado, muito lhe será pedido." Por Lydia ter recebido muito do Senhor, ela retornou muito do que recebeu, e ainda mais.

Lydia não somente pregava, como freqüentemente e o caso dos evangelistas. O que ela ensinava se tornava realidade, também, através de suas ações. Ela cuidava de cristãos doentes e dos catequistas, do mesmo modo, encorajando-lhes. Ela recebia as mulheres que eram perseguidas e expulsas das suas casas pela sua fé, e lhes dava proteção. Às vezes, havia até quatro ou mais mulheres jovens morando na sua casa. Se alguém fosse embora da cidade devido à perseguição, ou temporariamente tivesse sido excluído da comunidade de fé devido ao pecado, Lydia não descansava até ir e encontrar essa pessoa. Muitas vezes ela os trazia para sua casa. Devido a sua condição social, não lhe era permitido caminhar pela vizinhança sozinha, então Njo Wamben lhe deu alguns escravos que sempre a acompanhavam.

O zelo de Lydia pelo evangelismo deixa claro que a sua fé não era simplesmente uma questão de vocação. Ela pertencia totalmente ao seu Senhor, e tudo o que ela fazia era com um tom evangelístico. A fé de Lydia era ativa em serviço e era evidente pelo amor com que se dedicava a outros, tudo para a glória de Deus.

O Significado de Jesus Cristo na Vida Dela

Lydia Mengwelune era uma mulher cuja fé em Jesus Cristo poderia ser descrita como fervorosa. Ela somente tinha aprendido a ler e escrever na sua língua nativa, Bamoun. Ela não foi educada em francês ou alemão porque já era adulta na época em que essas escolas abriram em Foumban. Não teve treinamento em evangelismo em nenhuma escola bíblica. No entanto, as mudanças como conseqüência do seu estudo profundo da Bíblia e o seu amor por Jesus a tornaram uma grande figura da fé Cristã na região de Bamoun e em Caramarões, se poderia dizer na África, e porque não no mundo todo.

Quem era Jesus para esta mulher que entregou o seu corpo e a sua alma para servi-lo, inclusive colocando a sua própria vida em risco? O que segue é um dos últimos relatos da sua maravilhosa profissão de fé em Cristo: Em 1924, com a chegada do dia 14 de julho, o Rei chamou o seu mordomo mor e lhe disse: 'Converse com a sua esposa Mengwelune e peça a ela que dance nesta data festiva dos brancos. ' Nji Wamben próprio, me contou que a sua resposta ao rei foi: "Meu Rei sabe muito bem que Mengwelune é Cristã, e os Cristãos não dançam. Como posso pedir a ela para fazer o que o Rei está mandando?" Então, Njoya enviou dois mensageiros para tentar convencê-la a atender o seu pedido. Ele também prometeu a ela cabritos, óleo de palmeira, milho, amendoim e a echarpe mais bonita feita nos teares reais. Lydia riu quando recebeu a mensagem, pensando que era uma brincadeira. Logo, percebeu que era uma proposta séria. E esta foi a sua resposta: "Digam ao rei que Mengwelune precisa dos seus pés, das suas mãos e do seu corpo e do seu coração para servir a Deus." O rei não insistiu mais. Lydia deu algumas gargalhadas sobre este pedido pretensioso e pôde mostrar neste incidente como todas estas coisas, agora, eram-lhe estranhas. Coisas que antes costumavam deixá-la muito feliz. [15]

Através destes incidentes, Lydia deixou claro para o seu esposo Nji Wamben e o Rei (ambos eram amigos e a tinham perseguido) o que significava Jesus Cristo para ela. Ao permanecer fiel a Jesus ela estava compartilhando o Evangelho com o seu marido, o qual a tinha humilhado e maltratado, e acabou adotando a fé em Cristo. Uma fonte anônima, certa vez, exclamou: "Tem alguém entre todos os missionários e todos os Cristãos que não tenha elogiado a Lydia por sua grande fé e pelo seu amor no serviço a Deus? Ela é a única mulher Cristã nativa que é conhecida tanto aqui como na Europa, na América e em todo lugar. Que o Senhor continue enviando tais mulheres anciãs a sua pobre igreja Bamoun! Que grande Cristã nativa!" [16]

A memória de Lydia Mengwelune ainda está muito viva, principalmente em Foumban, mas também em toda a região Bamoun. Gerações de Cristãos têm nascido e se multiplicado através do testemunho dessa discípula fiel. A igreja na região de Bamoun possuía trinta e cinco lugares de culto em 1931, e cresceu ao ponto de ter dois Sínodos: Parte Norte (que vai do centro em direção a Foumban) e Parte Sul (que vai do centro em direção a Foumbot). A igreja em Foumban está orgulhosa de ter a primeira mega igreja de Camarões: chamada "Ndaambassie," com capacidade para mais de 14.000 pessoas. Esse é o fruto do trabalho de Lydia Mengwelune, que já foi para regozijar-se com o Seu Senhor no Seu Reino. [17] Robert Adamou Pindzié

Notas:

1. Essas datas são aproximadas, já que não existe informação mais precisa.
2. Rhein-Wuhrmann e Nicod não usam os mesmos nomes e os sobrenomes não se soletram da mesma maneira.
3. Um lamido é um chefe.
4. Rhein-Wuhrmann, Retratos de Mulheres, p.33.
5. Retratos, p.36.
6. Retratos, p.37.
7. Idem.
8. Idem.
9. Loumpet-Galitzine, p. 166.
10. Retratos, p.41.
11. Idem.
12. Loumpet-Galitzine, p. 287.
13. Loumpet-Galitzine, p.296.
14. Loumpet-Galitzine, p.166
15. Retratos, p.43.
16. Loumpet-Galitzine, p.166.
17. A seguinte carta, originalmente escrita em Bamoun por Lydia Mengwelune, para sua amiga Rhein-Wuhrmann, está transcrita abaixo (Retratos, p.44):
Foumban, 9 de julho de 1927


"Querida amiga, minha mãe, você pensa em mim e fica noites sem dormir como eu fico? Oh, eu sei que muitas vezes você fica sem dormir quando pensa em mim. Eu quero agradecê-la por ter escrito a história da minha vida num livro. Se tudo está bem comigo em Foumban, é graças a você; se o povo me ama e fala bem de mim, você é a razão disto também. Tenho estado muito doente e prostrada. Eu pensei que ia morrer (artrite reumatóide); agora, no entanto, estou bem de novo. (Seguem-se notícias de várias pessoas...) Eu, que sou a sua filha, a saúdo calorosamente".


Lydia Mengwelune


Bibliografia:

Francis Grob, Témoins Camerounais de l'Evangile (les Origines de l'Eglise Evangélique) [Testemunhas do Evangelho Camaroenses (As Origens da Igreja Evangélica)] (Yaoundé : Edições CLE, 1967).
Alexandra Loumpet-Galitzine, Njoya et le royaume Bamoun. Les archives de la Société des Missions Evangéliques de Paris, [Njoya e o Reinado de Bamoun. Arquivos da Sociedade Missionária Evangélica Paris] (Paris : Karthala Edições, 2006).
Joseph Mfochive, Moise Lamere, Rodolphe Peshandon, Quatre vingt ans de christianisme en pays bamoun [Oitenta anos de Cristianismo na Região de Bamoun] (Foumban, 1986).
Henri Nicod, La Danseuse du roi [Dançarina do rei] (Neuchâtel : Delachaux e Niestle, 1950).
Anna Rhein-Wuhrmann, Fumban die Stadt auf dem Schutte, Arbeitbund Ernte im Missiondienst in Kamerun (Basiléia: Basler Missionsbuchhandlung GmbH, 1948).
-------, Au Cameroon, Portraits de Femmes [Retratos de Mulheres de Camarões] traduzido do alemão por Ms. E. Lack (Paris: Société des Missions Evangéliques, 1931).
Jap Van Slageren, Les origines de l'église Evangélique au Cameroun. Missions et christianisme autochtone [As Origens da Igreja Evangélica de Camarões. Missões e Cristianismo Nativo] (Leiden: E.J. Brill, 1972).

Este artigo foi apresentado em 2008 e foi pesquisado e escrito pelo Rev. Robert Adamou Pindzié, 2007-2008 Parceiro do Projeto Luke. Rev. Pindzié é professor na Faculté de Théologie Evangélique du Cameroun [Seminário Evangélico de Camarões] em Yaoundé.


Mandlate, Isaka
1898 a 1960
Igreja do Nazareno
Moçambique

Isaka Mandlate nasceu numa família Shangaan não cristã em Musengui, no distrito de Chibuto. Seu pai era Vakane Mandlate. Quando era menino, pastoreava ovelhas e cabras. Na adolescência, Isaka foi de Lourenço Marques (Maputo) para Joanesburgo, nas minas de ouro, para ganhar dinheiro para lovola (dote de casamento).

Um dia quando ele estava doente na cama, um pregador o visitou e perguntou se ele queria caminhar com Jesus. Ele respondeu: "- Eu não posso, nem que eu quisesse, estou doente!" O pregador lhe mostrou o caminho, e ele concordou que era bom. O pregador orou com ele. Depois de recuperar-se ele se mudou para um quarto com cristãos. Ele começou a perceber que era pecador e achou a salvação. Mais tarde, ele foi santificado e cheio de Espírito Santo. [1]

Alguns dias depois de retornar para a sua casa, um curandeiro veio para as cerimônias de purificação anuais, para afastar a morte das casas, e assegurar boa sorte em tudo. Ele espalhou pedaços de pano, representando cada membro da família, e os regou com sangue. Isaka Mandlate disse ao seu pai que não poderia mais participar daqueles rituais, porque ele tinha encontrado a Jesus Cristo como o seu senhor. Seu pai ficou muito irritado, e disse que dois espíritos não poderiam ser tolerados na mesma casa. Ele deveria voltar à adoração tradicional, ou sair de casa. Ele saiu em 1922, foi para Chipaja para construir uma nova casa, e começou um novo ponto de pregação da Igreja Nazarena lá.

Em 1925, ele casou-se com a Srta. Alina Sigauque (? -1959) que tinha sido possuída por demônios quando era moça com dezoito anos. Naquela época, ela usava o cabelo enfeitado com barro vermelho, e usava pesados braceletes e tornoseleiras de bronze. Ela usava um colar trançado de cabelo, couro e garras. Todos esses amuletos, supostamente dariam proteção contra espíritos maus. Freqüentemente ela dançava até altas horas da noite, e vivia aterrorizada.

Uma noite, ao passar por uma igreja feita de barro e palha, ela escutou canções que a atraíram. Aquilo soava muito alegre. A alegria estava completamente ausente da sua vida amarga e fútil. Ela encontrou um gozo maravilhoso e paz em Cristo naquela noite, e não teve mais medo dos espíritos maus, os quais acreditavam que habitavam em ratos, cobras e corujas. Deus usou grandemente o seu testemunho e a igreja confiava nela.

Ela ficou muito doente, e tão frágil, que não podia nem alimentar-se. Sua família a considerava desenganada por ela ter se juntado aos cristãos. Eles chamaram um curandeiro contra a vontade dela. Ela insistiu que estava pronta para morrer e que o seu Salvador estava com ela. O curandeiro inclinou-se sobre o corpo dela quase sem vida para dar-lhe algumas gotas de mel. Com uma força sobre humana ela tomou a tigela da mão dele e espalhou o mel sagrado pela cabana. O curandeiro foi embora furioso, mas Alina se recuperou.

Ainda mocinha ela tinha muita vontade de fazer visitação nas casas. Era evidente que ela era motivada pelo Espirito Santo e não pelas pessoas que faziam visitas. Elas percorriam todas as semanas a longa distancia entre Chipaja e Mussengi para ir à igreja.

Depois que Mandlate e Alina se casaram, eles começaram a trabalhar como pastores da igreja em Chipaja. Muitos nativos encontraram o Senhor e muitos deles chegaram a ser pastores e anciãos. O Rev. Samuel Manhique se converteu ainda quando era jovem através do ministério de Mandlate.

Num domingo quando era pastor em Chipaja em 1930, uma enorme nuvem de gafanhotos escureceu o céu do meio dia. As pessoas correram até a igreja para avisar os crentes. O pastor Isaka Mandlate lhes disse: "Nós estamos orando; os nossos campos o milho e o feijão, tudo pertence a Deus." Todos menos seis pessoas correram para fora e junto com os outros vizinhos da vila entraram na luta em vão para afugentar os gafanhotos. Na manhã seguinte os gafanhotos tinham ido embora e os campos estavam pelados, mas havia seis plantações intactas, eram as plantações daqueles que tinham permanecido orando. Alguns leprosos que observavam de longe relataram que tinham visto um bando de corvos de colarinho branco em volta das seis lavouras e as protegeram durante o ataque dos gafanhotos.

Mandlate tornou-se líder da região de Chibuto e foi ordenado em 1950 pelo Superintendente Geral Hardy Powers. Ele foi um pregador de grande integridade.

Alina foi sempre uma grande colaboradora e sempre que Mandlate estava fora ela assumia as tarefas de visitação aos doentes e a liderança da congregação. O sucesso da congregação em Chipaja devia-se muito a seus esforços. Mandlate fez esta homenagem a Alina quando ela faleceu: "Nós nos amávamos muito e ela amava toda a família." As últimas palavras dela foram: "Fique bem pai Mandlate, cuide de nossos filhos. Permaneça no Senhor dia após dia. Eu estou partindo. Estou indo para o meu Lar... Leva-me Jesus, estou indo encontrá-lo, eu vou descansar. Jesus leve-me, vou descansar contigo." [2]

Na faculdade Bíblica Mandlate era chamado de Mukombo-Vukeya Vantwini (Rinoceronte Atacador de Pessoas). O Rino é um animal feroz que ataca qualquer pessoa que encontra. O povo foge e deixa tudo para trás quando ele aparece perto de suas casas. O Revdo. Mandlate atacava qualquer um com o evangelho e os fazia fugir de seis pecados. "Muitos vivem hoje graças a aquele Rino." [3]
Paul S. Dayhoff

Notas:

1. Simeão Isak Mandlate, "My Father," Mutwalisi (The Herald), Shangaan/Tsonga revista da Igreja do Nazareno de Moçambique e África do Sul, (Florida, Transvaal, África do Sul: Casa Publicadora Nazarena, Setembro-Outubro 1961), 6.
2. C. S. Jenkins, "A Fruitful Church," The Other Sheep, (Kansas City, MO: Casa Publicadora Nazarena, Janeiro de 1959), contra capa; Rev. Isaac Mandlate, "Blessed are They...,' Mutwalisi (Janeiro-Fevereiro de 1961), 4; Vicente Mbanze, carta (13 de Abril de 1995).
3. João Muchavi, "Rev. Isaac Mandlate," Mutwalisi (Maio-Junho de 1961), 11-12.


Este artigo foi reproduzido com a permissão de Living Stones In Africa: Pioneers of the Church of the Nazarene, edição revisada, copyright © 1999 por Paul S. Dayhoff. Todos os direitos são reservados.






Mahay Choramo
n. 1920 aprox.
Igreja Wolaitta Kale Heywat (IWKH)
Etiópia

Mahay [1] Choramo nasceu em Kucha no sul da Etiópia. Sua mãe, Paltore Posha era de Humbo em Wolaitta. Choramo, seu segundo marido e pai de Mahey, era de Kucha. Mahay, que na língua local significa leopardo, teve um irmão Daniel e três irmãs. Todas faleceram: Tera aos dois anos de idade; Meskele em 1976 e Feteshey em 1979. Por volta de 1920, depois que Mahay nasceu, teve uma vida muito parecida com a de qualquer criança da zona rural da Etiópia. Mas o futuro de Mahay não estava determinado pelas condições sócio-econômicas ou religiosas nas quais nasceu e cresceu. Ela foi moldada pelo trabalho de um punhado de estrangeiros que chegaram a Wolaitta logo que ele nasceu.

Em abril de 1928 os primeiros missionários estrangeiros, membros da Missão ao Interior do Sudão, chegaram a Soddo. Eles fizeram evangelismo itinerante e fundaram um hospital. Quase nove anos depois que eles chegaram, foram expulsos pelos italianos que invadiram a Etiópia. A maioria dos missionários estrangeiros partiram de Soddo no dia 17 de abril de 1937, e os últimos missionários da Missão ao Interior do Sudão deixaram a Etiópia no dia 21 de agosto de 1938. Eles deixaram um pequeno número de convertidos, dos quais muitos tinham um desejo ardente de continuar a tarefa dos missionários estrangeiros.

Os missionários estrangeiros tinham usado as línguas locais na sua pregação e no seu ensinamento e tinham feito muito pouco trabalho de tradução. Ao partir, deixaram a tradução de um livreto de Escrituras Selecionadas chamado Deus Tem Falado [2] e o evangelho de João, o qual mais tarde foi publicado na língua Wolaitta. Os crentes almejavam ter toda a Bíblia, a qual lamentavelmente estava disponível somente em Amárico que era a língua dos latifundiários e avarentos oficiais do governo que não freqüentavam a igreja.

Os oficiais do governo do sul da Etiópia eram todos do platô central, terra natal dos povos Tigre e Amhara. Eles eram membros da Igreja Ortodoxa Etíope. O cristianismo promovido pelos padres da Igreja Ortodoxa Etíope eram uma religião étnica, era a religião dos Tigres e dos Amharas. Para tornar-se cristão, uma pessoa devia adotar a cultura Tigre-Amhara. O evangelismo da Igreja Ortodoxa Etíope no sul da Etiópia era feito por intermédio da educação e não da proclamação. Aos seus olhos, ser um não-cristão ortodoxo-etíope era um paradoxo, portanto a maioria dos habitantes do sul da Etiópia estava excluída da possibilidade de tornar-se cristãos.

O Imperador "Constantino" Haile Selassie, da Etiópia, autorizava por conta própria as missões não-ortodoxas a trabalhar no sul da Etiópia. Ele impunha poucas restrições sobre eles, entre as quais a proibição de aprender a língua Amárica. A sua intenção era mantê-los distantes da Igreja Ortodoxa Etíope, a qual usava somente a língua Geez (na liturgia) e Amárico (nos contatos sociais). Isto era exatamente o que os membros da Missão ao Interior do Sudão (S.I.M) queriam. Isto lhes dava carta branca para começar novas igrejas, o que era radicalmente diferente do que todas as outras missões na Etiópia se propunham a fazer [3].

Ao receberem esta luz verde, os missionários da S.I.M. iniciaram o Movimento das Novas Igrejas [4]. Os missionários estrangeiros basicamente ignoraram por completo a Igreja Ortodoxa Etíope e por ordem do Imperador os funcionários e membros de tal igreja tinham que agüentar os missionários. Os dois grupos pareciam dois trens de carga que se cruzavam a noite. Neste clima, milhões de pessoas não-ortodoxas no sul da Etiópia estavam livres para se tornarem cristãos não-ortodoxos. Foi nestas condições que Mahay Choramo nasceu.

Experiência de Conversão

Assim como todos os etno-religiosos, Mahay e sua família eram religiosos e preocupados com a alienação espiritual, prestação de contas e julgamento. No momento certo para Mahay, evangelistas itinerantes do Movimento das Novas Igrejas em Wolaitta visitaram Kucha, e pregavam aceitação no lugar de rejeição e perdão no lugar da culpa. Mahay que carecia de qualquer contato prévio com ensinamento cristão aceitou esta mensagem literalmente e começou a viver uma vida transformada. A sua conversão foi uma simples escolha entre dois caminhos: o caminho da cultura e da tradição e o caminho da Bíblia, o movimento de um mundo para o outro, da escuridão para a luz. Na época da sua conversão não havia outros crentes naquela área.

Na comunidade de Mahay as pessoas acreditavam que Satanás era uma pessoa real com um poder real além de existirem muitas outras forças destrutivas no seu mundo. "Afasta Satanás," era uma expressão comum na língua materna de Mahay. A experiência de conversão de Mahay eliminou o seu medo de Satanás. Mais tarde ele compreendeu que Satanás só tinha uma estratégia: impedir que os incrédulos escutassem as Boas Novas, impedindo que os crentes as pregassem.

As travessuras e as palhaçadas que os etno-religiosos atribuíam a Satanás não o preocupavam muito. Antes de tornar-se crente ele tinha incursionado no ocultismo, mas recusou ser possuído. A sua própria experiência o convenceu que a palavra de Deus pregada, tinha o poder de vencer a Satanás e transformar as vidas. Por esta razão a pregação das Boas Novas tornou-se a sua paixão. Para Mahay, qualquer tipo de oposição ou dificuldade era simplesmente a ação de Satanás para impedir a pregação das Boas Novas.

Um fato singular nas ações de Mahay foi a peculiaridade de que ele só voltou a ter contato com missionários estrangeiros vários anos após a sua conversão [5] de modo que eles não influenciaram no início. No começo a sua compreensão da conversão era baseada na sua experiência, e gradualmente ele começou a entender a fé como um todo. Mas como muitos dos novos convertidos, ele queria descobrir por si mesmo o que o Livro tinha a dizer. Mediante trabalho duro e oração ele finalmente conseguiu aprender por si mesmo a ler Amárico e comprou uma Bíblia. Para seu benefício, a tradução que usou não era em Amárico clássico nem sequer um equivalente, de modo que a sintaxe rudimentar facilitou a sua leitura e entendimento.

Ele admirava os evangelistas que viajavam pregando as Boas Novas: eles eram os instrumentos humanos que trouxeram a ele nova vida [6] ele queria imitá-los mesmo desde o momento da sua conversão. Assim como os crentes de Atos 4:20, ele não conseguia ficar quieto e constantemente criava oportunidades das Boas Novas. Mais tarde ele teria outros motivos que aumentariam o seu desejo de pregar.

Mahay teve oito filhos: Mattewos, que morreu no norte em 1985, uma filha que morreu em Bulki logo após o nascimento, Israel, que trabalha em desenvolvimento em Addis Ababa, Lydia, uma professora de escola secundária em Soddo, Rebecca, uma estudante em Addis Ababa, Sarah, que trabalha num hospital em Soddo, Timoteos, que tem uma oficina mecânica em Soddo e Rahel, que é casado com um médico que trabalha no Hospital de Balcha.

Pregação

Mahay aceitou o fato de que a pregação e a oposição coexistiam, já que esta foi a experiência da Igreja Primitiva no livro de Atos. Na Etiópia na década de 40, todos os cristãos não-ortodoxos eram tratados injustamente de acordo com os caprichos e humor de qualquer oficial do governo ou latifundiário. A Igreja Ortodoxa Etíope era negligente perante tal oposição porque simplesmente não possuía categorias em quais encaixar o Movimento das Novas Igrejas [7]. Mahay esperava sofrer oposição [8] mas nunca se ressentiu ou teve rancor daqueles que se opunham, assim fossem padres, latifundiários ou oficiais do governo. A sua resposta era sempre a mesma: Deus ama vocês e o Espírito Santo que me dá poder é maior do que qualquer coisa que vocês possam fazer. As únicas vezes que a prisão não foi o púlpito para ele foi quando foi colocado na solitária. Em uma ocasião ele agradeceu a um juiz o qual ficou muito irritado e lhe perguntou se ele tinha alguma coisa para agradecer, ao que Mahay respondeu: "Eu vou ter oportunidade de orar e meditar melhor estando sozinho".

Mas Mahay não somente aceitou a inevitável oposição, ele trabalhou, orou e negociou para diminuí-la, apelando às leis em vigor e perante certos indivíduos. Sabedor de que a Bíblia e a Constituição Etíope propunham liberdade religiosa, ele procurou fazer concessões apesar da injustiça e da aceitação do status quo. Ele se auto-defendia nas cortes com a sua Bíblia e respondia a cada pergunta dizendo: "Isto é o que a palavra de Deus diz." Mas foi a oposição que levou Mahay a entrar em contato com outros crentes e o Movimento das Novas Igrejas.

Gradualmente Mahay sentia que Deus não somente o queria como pregador, mas também como missionários e evangelista [9]. Como missionário a sua paixão era ir a lugares onde o povo ainda não tinha escutado as Boas Novas [10]. Como evangelista ele se sentia impelido a pregar e seguir em frente, deixando a tarefa pastoral para outros. Ele não precisou ir muito longe em direção ao sul até encontrar pessoas cuja língua e cultura fosse muito diferente da sua. Assim aconteceu quando foi A Kafa, a oeste da Etiópia. Ele obedeceu este chamado fielmente, apesar de não ter uma educação formal, a não ser poucos anos de escola bíblica rural. Certa vez ele também ficou muito doente com tuberculose.

Para Mahay, ser um missionário evangelista itinerante significava ser um fundador de igrejas [11]. Durante a sua carreira de meio século ele fundou muitas congregações. No entanto, ele jamais se autodenominava fundador de igrejas, porque para ele a igreja local nascia espontaneamente assim que as pessoas se convertiam. Qualquer grupo de pessoas não evangelizadas era a sua paróquia [12]. Ele achava a maneira de fazer contatos e de viver e pregar com esses grupos. Por exemplo em Gofa, uma área ao sul da sua terra, na qual ele começou a vender sal na beira da estrada nos dias de feira. Lá ele falava com as pessoas, orava pelos doentes e pregava a todos os que se dispunham a escutar. Ele encorajava os novos convertidos a reunirem-se com freqüência e escutar a sua pregação. Então ele achava alguma outra pessoa para que fosse o seu pastor e mudava-se para outro lugar. A estratégia itinerante foi o modelo deixado pelos missionários estrangeiros [13] e que ele também identificou no trabalho dos apóstolos no livro de Atos.

Conexão com a Igreja Wolaitta Kale Heywat (IWKH)

Durante toda a sua vida, Mahay tem sido membro ativo da IWKH a qual ele considera como sua mãe espiritual. Antes de partir para qualquer lugar ele sempre pediu a benção do Conselho de Anciãos da IWKH. Estes o consideravam um dos seus trabalhadores e ocasionalmente lhe enviavam pequenas quantias de dinheiro [14]. Com o passar dos anos, o pessoal da IWKH lhe pediram várias vezes que se aposentasse, ao que ele respondia que a palavra aposentadoria não existia no Livro, eles imploravam que o abençoassem e permitissem partir para uma nova área não evangelizada. Ele dizia: "Não estou pronto para ficar sentado e permitir que o meu corpo se torne adubo. Eu vou continuar a trabalhar e pregar o evangelho." Os anciões sempre acabavam cedendo. Paul Balisky comenta: "Ele continua a escutar o que parece ser uma voz audível que lhe diz: 'Ide, ide'". A sua vida e o seu ministério derivam desta teologia.

A sua teologia se desenvolveu a partir de quatro fontes: experiência, o contato com etno-religiosos não convertidos, contato com a Igreja Ortodoxa Etíope e com o Movimento das Novas Igrejas. Mas todas estas fontes estavam subordinadas ao Livro do qual ele extraía todo o seu ensinamento. Ele pregava sobre: Deus o criador, a queda do homem, as conseqüências do pecado, o julgamento e a redenção que Deus deu através de Cristo. Ele também enfatizava a ressurreição de Cristo e a esperança de ressurreição dos crentes. Era muita matéria para cobrir numa lição, mas Mahay se esforçava para que a sua mensagem fosse o mais clara possível, ao falar para as pessoas que o escutavam por primeira vez e que talvez não o escutassem mais. [15] Perante qualquer acusação e qualquer questionamento ele abria o Livro e começava dizendo: "A Palavra de Deus diz..."

Os ensinamentos de Mahay estão marcados por vários temas recorrentes. Apesar da constante oposição, parece que ele jamais se cansava de falar do amor de Deus. Mesmo que ele e a sua família vivessem do pouco que produziam em pequenas parcelas de terra, das ofertas dos novos convertidos e da generosidade ocasional da IWKH [16], as suas orações estavam cheias de agradecimento. Por outro lado, ele sempre dava crédito a qualquer realização ao poder do Espírito Santo. Por décadas ele acumulou centenas de histórias sobre o que Deus fez em diversas situações.

Mahay sentia uma obrigação compulsiva de levar as Boas Novas a todo mundo. Não se abalava nem sequer nas ocasiões em que estava com o coração quebrantado pelos problemas que surgiam nas igrejas que ele fundava, em certas ocasiões testemunhou a desintegração de muitas congregações. Mas ele também teve a alegria e a satisfação de ver muitas delas multiplicarem-se.

A paixão de Mahay foi sua marca como líder entre os etíopes e os estrangeiros também. Ele também conquistou inimigos e opositores com o seu simpático sorriso, a sua personalidade alegre e a sua voz tranqüila. "Mahay era um evangelista veterano que juntamente com a sua esposa serviu ao Senhor por muitos anos em outras partes da Etiópia antes de aceitar o desafio de Bunna [17]. Tanto ele como a sua esposa eram calmos e gente boa, cuja gentileza demonstrava uma coragem interna que nascia de uma confiança quase infantil em Deus." [18] Ele motivava as pessoas com o seu desejo de sempre ser o primeiro em arriscar-se e perseverar quando os outros fraquejavam. A tenacidade e o foco foram as duas qualidades que dominaram o seu trabalho por toda sua vida.

Mahay provavelmente jamais se considerou como um mentor, já que ajudar a outros missionários evangelistas era simplesmente parte da sua grande visão. Ele era capaz de caminhar por centenas de quilômetros e ficar por meses com jovens missionários com o intuito de adaptar-se à cultura e à língua do seu campo de missão. Nem bem completava a sua missão e estava procurando por outro trabalho.

Regiões Remotas

Ele sentia urgência de ir até as regiões remotas. Não foi um David Livingstone porque jamais foi para testar se a receptividade do povo. Muitas vezes ele teve que ir embora antes de ver uma igreja estabelecida, mas tinha a certeza que no tempo certo a semente que ele plantara daria frutos. A sua visão para o ministério era muito maior do que suas próprias realizações, já que ele começava um trabalho e logo partia, deixando a cargo de outros. "Os evangelistas não vêem a si mesmos como uma estrutura permanente no lugar salot bet (casa de oração) que eles ajudam a estabelecer. Eles eram como peregrinos, continuamente a caminho. Eles pregavam, batizavam e treinavam a liderança." [19] Ele jamais foi chefe ou presidente de coisa alguma, mas sempre estava lá na colocação da pedra fundamental. Ele freqüentemente suportou os ataques da oposição e as frustrações e lutas com os primeiros crentes. Para depois deixar que outros construíssem grandes edifícios e liderassem numerosas congregações.

Os seus críticos dizem que em alguns lugares ele ficou mais do que o tempo necessário e gastou muito tempo e energia plantando e cuidando das suas árvores de café. Outros experimentaram o seu conselho paternal e foram condescendentes com ele.

Ele se sentiu satisfeito de ter pregado. Isto era a sua paixão, os resultados eram um presente de Deus. Ele não pediu nada mais do que a oportunidade de pregar as Boa Novas à pessoas que não as tinhas ouvido ou entendido. [20]

Era das Trevas e anos seguintes

Durante a Revolução Cultural Etíope (1974-1991) a maioria das igrejas em Wolaitta permaneceram fechadas entre 1985 e 1990. Até os serviços funerários foram suspensos. Mahay e os outros começaram a formar pequenos grupos e inspiraram os crentes a forçar limites e arriscar-se. Batismos e aulas de instrução eram realizadas a noite. Mahay continua a ajudar missionários evangelistas que ainda trabalhavam em área distantes. Ele lhes levava os salários e gravadores. Ele lembra que em uma ocasião, próximo a um povoado chamado Araba Minch,lhe confiscaram oito gravadores e 1.600 birr etíopes. Depois que a Frente Democrática Revolucionária do Povo da Etiópia (FDRPE) tomou o poder em 1991, Mahay e outros começaram a circular mais abertamente, mas ele logo foi preso novamente. Desde 1998, ele vinha trabalhando com missionários evangelistas nativos e estrangeiros, especialmente Malcolm Hunter para estabelecer obreiros permanentes em Borana e outras áreas ao sul da Etiópia com a fronteira com o Quênia.

O papel de Mahay nesta parceria de missionários evangelistas não pode ser facilmente esquecida. "Os evangelistas não assumiram sua posição por indicação da sociedade tradicional. A autoridade deles deriva dos missionários ou das congregações que os enviaram [21]. Mas a coragem e a disposição deles de confrontar os líderes do ocultismo marcou o seu ministério. Eles, talvez mais do que ninguém, são os arautos da nova comunidade; a qual apesar de estar relacionada com a sociedade tradicional significa o começo da algo completamente novo. [22] BIBLIOGRAFIA SELECIONADA sobre misisonários-evangelistas etíopes: Wondiye Ali, Awakening at Midnight: the story of the Kale Heywet Church in Ethiopia Vol. 2, 1942-1973 (Amárico), publicado pelo Departamento de Literatura KHC, Addis Ababa, 2000. Johnny Bakke, Christian Ministry Patterns and Functions within the Ethiopian Evangelical Church Mekane Yesus (Nova Jersey: Humanities Press, 1987). E. Paul Balisky, "Wolaitta Evangelists: A Study of Religious Innovation in Southern Ethiopia, 1936-1975," (tese de Doutorado, University of Aberdeen, 1997). Albert E. Brant, In the Wake of Martyrs (Langley, B.C.: Omega Publications, 1992). Edith Buxton, Reluctant Missionary (Londres: Hodder & Stoughton, 1968). Mahari Choramo, Ethiopian Evangelist: Autobiography of Evangelist Mahari Choramo, com notas de Brian L. Fargher, (Edmonton: Enterprise Publications, 1997). F. Peter Cotterell, Born at Midnight (Chicago: Moody Press, 1973). --------, Cry Ethiopia (Eastbourne: MARCO, 1988). Raymond Davis, Fire on the Mountain (Nova Iorque/Toronto: SIM, 1966). --------, Winds of God (Canadá: SIM International Publications, 1984). Clarence W. Duff, Cords of Love. A Pioneer Misssion in Ethiopia (Phillipsburg, N.J.: Presbyterian & Reformed Publishing Co., 1980). Brian L. Fargher, The New Churches Movement in Ethiopia 1928-1944 (E.J. Brill, 1998). --------, "As origens do Movimento das Novas Igrejas na área de Hammer Bako 1954-1961," tese de mestrado não publicada de Brian Fargher com Donald e Christine Gray (março de 1996). W. Harold Fuller, Run While the Sun is Hot (Chicago: Moody, 1967). Norman Grubb, Alfred Buxton of Abyssinia & Congo (Londres & Redhill: Lutterworth Press, 1942). Lucy Winifred Horn, Hearth and Home in Ethiopia (Londres: SIM, 1960). Thomas A. Lambie, A Doctor without a Country (Londres: Fleming & Revell Company, 1939). Guy W. Playfair, Trials and Triumphs in Ethiopia (Toronto, Canadá: SIM, sem data ca. 1943). A. G. H. Quinton, Ethiopia and the Evangel (Londres: Marshall, Morgan & Scott, 1949). Ed & Edna Ratzliff, Letters from the Uttermost Parts of the Earth (Publicação individual, 1987). Alfred G. Roke, An Indigenous Church in Action (Auckland, N.Z.: Sudan Interior Mission, 1938). J. Spencer Trimingham, The Christian Church and Missions in Ethiopia (World Dominion Press, 1950). ________________________________________
Brian Fargher

Notas:

1. Seu pai lhe deu o nome de "Mahay", mas como muitos dos que não pertencem aos Amharas freqüentemente adaptam o seu nome. Na sua autobiografia ele firmemente insiste que o seu nome é Mahari, que significa misericordioso.
2. Clarence W. Duff, Cords of Love. A Pioneer Mission in Ethiopia (Phillipsburg, N.J.: Presbyterian and Reformed Publishing Co., 1980): 266.
3. Edith Buxton, Reluctant Missionary (Londres: Hodder and Stoughton, 1968): 169. O sonho de Buxton para a Etiópia e o de todos os outros missionários, exceto os da S.I.M., era provocar um avivamento na Igreja Ortodoxa Etíope.
4. Brian L. Fargher, The Origins of the New Churches Movement in Southern Ethiopia 1928-1943 (E. J. Brill, 1998).
5. W. Harold Fuller, Run While the Sun is Hot (Chicago: Moody, 1967): 178-208. Fuller escreve sobre evangelistas como Bangay, Warrasa e Beyena, os quais trabalharam com missionários estrangeiros. Para os outros, isto era "impensado, sem sentido".
6. F. Peter Cotterell, Born at Midnight (Chicago: Moody Press, 1973). Ch. 12, "1940-1950," pgs. 112-123, dão uma muito breve visão geral do que os missionários evangelistas nativos conseguiram em várias partes da Etiópia. R. V. Bingham's "Dear Prayer Helper" as cartas freqüentemente consistiam quase que exclusivamente de relatos sobre as viagens, sendo que ele estava sempre viajando. Bingham foi o fundador da Missão ao Interior do Sudão e o primeiro diretor geral.
7. Norman Grubb, Alfred Buxton of Abyssinia and Congo (Londres: Lutterworth Press, 1942): ch. 17, pgs. 129-139 cobrindo os anos de 1934-1935. Apesar das melhor intenções de Buxton os seus evangelistas também experimentaram grande oposição por parte da igreja estatal.
8. Ed e Edna Ratzliff, Letters from the Uttermost Parts of the Earth (publicação particular, 1987). Nas pgs. 16-136, "20 de maio de 1951 - 8 de janeiro de 1952," os autores relatam a intensa oposição que aconteceu em Gamo, uma área ao sul do lugar original de trabalho de Mahay.
9. Ele provavelmente não percebeu o fato de que o "trabalho missionário" implicava muita estratégia. "Será óbvio que a maior tarefa das missões [e das igrejas na Etiópia] será a ocupação adequada de vastas áreas não evangelizadas." J. Spencer Trimingham The Christian Church and Missions in Ethiopia (World Dominion Press, 1950): 54.
10. Talvez ele escutasse a história dos quarto evangelistas missionários que tinham atravessado o Rio Bilate em direção a Sidamo, os quais foram açoitados e mandados de volta, e que assim mesmo retornaram assim que os seus ferimentos estavam curados e fundaram igrejas. Guy W. Playfair, Trials and Triumphs in Ethiopia (Toronto, Canada: sem data, ca. 1943): 31. O relatório de Playfair sobre o que aconteceu na Etiópia entre 1938 e 1942 foi resumido num pequeno livreto intitulado A Etiópia está Estendendo as suas mãos a Deus o qual foi distribuído nas áreas de abrangências das missões. Segundo aponta Cotterell muitos destes missionários evangelistas não encontravam problemas lingüísticos ao começo, porque circulavam em áreas que falavam línguas do mesmo grupo; mas gradualmente entraram em áreas além destes limites. "Uma igreja nativa no sul da Etiópia" no The Bulletin for African Church History, Vol. III, Nº. 1, 2 (1970), pgs. 68-104, esp. pgs. 82-85.
11. O começo da sua carreira está brevemente relatada em Awakening at Midnight: the story of the Kale Heywet Church in Ethiopia Vol. 2, 1942-1973 (Amárico), Wondiye Ali, pgs.147-150, publicado pelo Departamento de Literatura da KHC, Addis Ababa, 2000.
12. A. G. H. Quinton, Ethiopia and the Evangel (Londres: Marshall, Morgan & Scott, 1949): 58. Quinton declara que a maioria dos missionários que retornavam gastavam a maior parte do seu tempo e energia treinando "pastores e anciãos."
13. Alfred G. Roke, An Indigenous Church in Action (Auckland, Nova Zealândia: Missão ao Interior do Sudão, 1938): 53. Os missionários estrangeiros se referiam ao princípio de ir e pregar com o "testemunho espontâneo" o que incluía não somente tomar iniciativa como missionário evangelista, mas também conseguir o seu próprio sustento financeiro. Raymond Davis, Fire on the Mountain. The story of a miracle-the Church in Ethiopia (Nova Iorque/Toronto: S.I.M., 1966). Cap. 10, pgs. 99-105, conta a história de Toro, quem não somente queria ir e pregar, mas insistia em confiar somente em Deus no referente às suas necessidades financeiras. Mais tarde Mahay trabalhou por curtos períodos com vários missionários pioneiros estrangeiros; "as origens do Movimento das Novas Igrejas na área de Hammer Bako 1954-1961," tese de mestrado não publicada de Brian Fargher com Donald e Christine Gray (março de 1996). Em certa ocasião (março de 1956) Mahay caminhou por cinco dias de Soddo a Bako, ida e volta, para trazer correspondências aos Gray.
14. Peter Cotterell, Cry Ethiopia (Eastbourne: MARC, 1988), pg. 45. Ofertas especiais foram levantadasnas conferêcias anuais e distribuídas entre os evangelistas ( aqueles que trabalhavam na sua terra natal) e missionários evangelistas como Mahay.
15. Raymond J. Davis, The Winds of God (Canada: SIM International Publication, 1984): 104.
16. Lucy Winifred (Freda) Horn, Hearth and Home in Ethiopia (Londres: S.I.M., 1960), páginas 60-71 contam a história das esposas de algun missionários evangelistas e suas lutas.
17. Bunna que também significa Banna. Um grupo étnico das planícies do sul da Etiópia.
18. Raymond J. Davis, The Winds of God (Canadá: SIM International Publications, 1984), Cap. 7 é parte da história da Mahay. A citação é da pg. 100.
19. E. Paul Balisky, "Wolaitta Evangelists: A Study of Religious Innovation in Southern Ethiopia, 1937-1975," (tese de Doutorado, University of Aberdeen, 1997): 337. A história de Mahay é cantata brevemente nas págs. 215 e seguintes. A tese te Balisky é um estudo preciso sobre os missionários evangelistas de Wolaitta.
20. A informação sobre esta sessão provém de uma entrevista feita por Paul Balisky a Mahay em 20 de março de 2001 em Addis Ababa, Etiópia.
21. Eu diria que a autoridade deles provinha de Deus quem os chamou e enviou.
22. Johnny Bakke, Christian Ministry Patterns and Functions within the Ethiopian Evangelical Church Mekane Yesus (Nova Jersey: Humanities Press, 1987): 135.

BIBLIOGRAFIA SELECIONADA sobre misisonários-evangelistas etíopes:

Wondiye Ali, Awakening at Midnight: the story of the Kale Heywet Church in Ethiopia Vol. 2, 1942-1973 (Amárico), publicado pelo Departamento de Literatura KHC, Addis Ababa, 2000.
Johnny Bakke, Christian Ministry Patterns and Functions within the Ethiopian Evangelical Church Mekane Yesus (Nova Jersey: Humanities Press, 1987).
E. Paul Balisky, "Wolaitta Evangelists: A Study of Religious Innovation in Southern Ethiopia, 1936-1975," (tese de Doutorado, University of Aberdeen, 1997).
Albert E. Brant, In the Wake of Martyrs (Langley, B.C.: Omega Publications, 1992).
Edith Buxton, Reluctant Missionary (Londres: Hodder & Stoughton, 1968).
Mahari Choramo, Ethiopian Evangelist: Autobiography of Evangelist Mahari Choramo, com notas de Brian L. Fargher, (Edmonton: Enterprise Publications, 1997).
F. Peter Cotterell, Born at Midnight (Chicago: Moody Press, 1973).
--------, Cry Ethiopia (Eastbourne: MARCO, 1988).
Raymond Davis, Fire on the Mountain (Nova Iorque/Toronto: SIM, 1966).
--------, Winds of God (Canadá: SIM International Publications, 1984).
Clarence W. Duff, Cords of Love. A Pioneer Misssion in Ethiopia (Phillipsburg, N.J.: Presbyterian & Reformed Publishing Co., 1980).
Brian L. Fargher, The New Churches Movement in Ethiopia 1928-1944 (E.J. Brill, 1998).
--------, "As origens do Movimento das Novas Igrejas na área de Hammer Bako 1954-1961," tese de mestrado não publicada de Brian Fargher com Donald e Christine Gray (março de 1996).
W. Harold Fuller, Run While the Sun is Hot (Chicago: Moody, 1967).
Norman Grubb, Alfred Buxton of Abyssinia & Congo (Londres & Redhill: Lutterworth Press, 1942).
Lucy Winifred Horn, Hearth and Home in Ethiopia (Londres: SIM, 1960).
Thomas A. Lambie, A Doctor without a Country (Londres: Fleming & Revell Company, 1939).
Guy W. Playfair, Trials and Triumphs in Ethiopia (Toronto, Canadá: SIM, sem data ca. 1943).
A. G. H. Quinton, Ethiopia and the Evangel (Londres: Marshall, Morgan & Scott, 1949).
Ed & Edna Ratzliff, Letters from the Uttermost Parts of the Earth (Publicação individual, 1987).
Alfred G. Roke, An Indigenous Church in Action (Auckland, N.Z.: Sudan Interior Mission, 1938).
J. Spencer Trimingham, The Christian Church and Missions in Ethiopia (World Dominion Press, 1950).

Este artigo recebido em 2001, foi escrito e pesquisado pelo Dr. Brian Fargher, Diretor Executivode Treinamento em na Cruzada Estudantil para Cristo em Edmonton, Alberta, Canadá.



Livingstone, David
n.1813 f.1873
Congregacional
África do Sul / Botsuana / Zâmbia / Tanzânia / Malaui / Angola / Moçambique

Dr. David Livingstone, o mais famoso explorador escocês, que expôs a África à Europa do século XIX, também foi missionário e introdutor do cristianismo moderno na África.

Livingstone cresceu na pobreza; a família de nove membros vivia num único cômodo nas dependências de um cotonifício em Lanarkshire. Trabalhava 14 horas diárias e freqüentava a escola noturna e enquanto se preparava, economizou tudo que pôde. Em 1836 conseguiu estudar medicina e teologia na Universidade de Glasgow ao mesmo tempo em que trabalhava em período parcial como fiador de algodão. Em 1838 foi para Londres e se ofereceu como missionário médico na Sociedade Missionária de Londres (SML), instituição que escolheu por não ter um caráter sectário. Livingstone foi um cristão evangélico devoto, e a sua conversão aconteceu quando percebeu que a fé a ciência não eram incompatíveis.

Em Londres completou sua residência e através da SML conheceu o missionário sul africano Robert Moffat que o atraiu para a África. Em 1840 recebeu sua licença médica, foi ordenado pastor e navegou para a Cidade do Cabo. Sua primeira designação foi para Bachuanaland (atual Botsuana), com a missão de fundar um centro missionário ao norte do lugar de Moffat. Assim começou o que se tornaria o padrão da sua prática. Viajou para o interior e viveu com pessoas nativas até aprender a língua deles, pregando e estudando botânica e história natural da região. Em 1844 foi seriamente atacado e ferido por um leão, de tal modo que teve que disparar seu rifle contra o mesmo.

Entre uma viagem e outra fez sua missão: construiu uma capela, montou uma imprensa, pregou e curou. Em 1845 casou-se com Maria Moffat, a filha mais velha de Robert, e começou uma família ao mesmo tempo em que viajava montando novos centros missionários. A Sociedade Geográfica Real (SGR) deu-lhe um prêmio e uma medalha de ouro pela sua descoberta do Lago Ngami no deserto de Kalahari em 1848. Em 1851 chegou até o Rio Zambezi. Ao retornar da viagem ao centro missionário, no entanto, encontrou sua casa e o centro de missão, destruídos e queimados pelos Afrikaners, os quais estavam ressentidos pela sua oposição constante ao tráfico de escravos. Em 1852, Mary e seus quatro filhos foram para a Grã-Bretanha como medida de segurança.

Com a partida de sua família, Livingstone aproveitou para fazer uma série de longas viagens exploratórias, sem precedentes, que duraram pelo resto de sua vida. Sua determinação era muito clara: "Abrirei uma trilha ao interior ou perecerei," ele disse. Livingstone estava convencido de que o cristianismo, o comércio e a civilização libertariam a África do escravismo e da barbárie. Ele tinha esperança de encontrar uma rota até o Oceano Atlântico, que legitimasse o comércio e dificultasse o comércio de escravos, ao mesmo tempo em que abrisse portas para o trabalho missionário. Em 1852, viajou para o norte de Zambezi até Luanda, na Angola. Ao retornar ele seguiu o curso do Rio Zambezi ao Oceano Índico e encontrou pelo caminho as quedas fantásticas, chamadas pelos africanos de Mosi-ao-Tunya ("a fumaça que troveja"), as quais Livingstone chamou de Rainha Victoria. Em 1856 voltou para a Inglaterra como um herói nacional e fez uma turnê de seis meses palestrando e preparando o livro "Viagens Missionárias e Pesquisas na África do Sul" (1857), o que lhe deu independência financeira, permitindo-lhe manter sua família e renunciar seu vínculo com a SML. A Inglaterra estava profundamente afetada por um avivamento cristão nessa época. Uma série de palestras de Livingstone, dadas na Universidade de Cambridge incendiou o entusiasmo dos jovens, os quais fundaram a Missão das Universidades para a África Central (MUAC) em 1860.

David Livingstone retornou a Moçambique como cônsul britânico em Quelimane, com a missão de explorar para: "a promoção do comércio e da civilização com o propósito da extinção do comércio de escravos". As expedições de 1858 e 1863 foram equipadas com navios a vapor de roda de pá, cada navio era tripulado por seis europeus e dez africanos. Nada saiu como planejado; as embarcações não eram adequadas para navegar pelo Zambezi (foram usadas três), o seu caráter temperamental causou discórdia e para piorar a situação a sua esposa Mary faleceu de febre em 1862, três meses depois de acompanhá-lo. Os britânicos cancelaram as expedições e assim mesmo Livingstone navegou no último vapor, o qual era inadequado para navegação em alto mar, até Bumbai, na Índia, para colocar a embarcação a venda. Apesar do sentimento de fracasso, a segunda expedição provou ser a mais frutífera das expedições de Livingstone. Ele descobriu o Rio Shire e o Lago Nyasa e expôs o comércio árabe de escravos ao longo do lago especialmente em Nkhota Kota.

Em 1865, de volta a Inglaterra, Livingstone publicou: "Narrativas de uma expedição ao Zambezi" e a SGR comprometeu-se a custear a sua próxima expedição para encontrar a nascente do Rio Nilo. Ele foi interior adentro e descobriu o Lago Mweri e o Lago Bagweulu na atual Zâmbia. Ele chegou até Ujiji no Lago Tanganika depois de muitas dificuldades, incluindo ataques Ngoni e deserção entre seus ajudantes. Para evitar castigo após seu retorno, os desertores espalharam rumores falsos de que Livingstone tinha sido morto pelos Ngoni. Assim mesmo, o intrépido Livingstone continuou, até que chegou ao Rio Congo. O ponto mais ocidental alcançado por um explorador europeu. A esta altura, após cinco anos, o mundo considerava Livingstone perdido, e o "London Telegraph" e o "New York Herald Tribune", perceberam que esta seria uma causa popular e enviaram o jornalista sensacionalista, Henry Morton STANLEY para procurá-lo. De acordo com a lenda ele o conheceu num encontro dramático, tirou o chapéu e dirigiu-se ao único homem branco num raio de mil quilômetros com as palavras: "Presumo que é o Dr. Livingstone".

Stanley reabasteceu a expedição de Livingstone de provisões, e viajou com ele pelo lago Tanganyika, mas este, doente e enfraquecido, recusou deixar a África com ele. Em 1873 os seus empregados encontraram-no morto. Embalsamaram o corpo e o carregaram por terra até o Oceano Índico, uma jornada de nove meses. Ele foi enterrado na Abadia de Westminster num solene funeral nacional. Os feitos de Livingstone foram notáveis. Suas descobertas: geográficas, botânicas, médicas e sociais foram de grande projeção. No entanto, o mais significativo foi o fato de que suas explorações o tornaram um precursor do imperialismo ocidental.
Norbert C. Brockman

Bibliografia:

Lipschutz, Mark R., e R. Kent Rasmussen. Dictionary of African Historical Biography. Segunda edição. Berkeley: Editora da Universidade da Califórnia, 1986.
Dictionary of National Biography. Londres: Editora da Universidade de Oxford, 27 volumes, 1921-1959.
The New Encyclopedia Britannica. Décima quinta edição. Chicago, IL, 1988.
Encyclopedia of World Biography. Palatine, IL: Heraty, 17 volumes, 1973-1992.

Leituras adicionais: Humble, Richard. The Travels of Livingstone (1991) [jovem]; Murray-Brown, Jeremy. Faith and the Flag (1977); Seaver, George. David Livingstone (1957).

Esse artigo foi reproduzido coma permissão de: An African Biographical Dictionary, copyright © 1994, editado por Norbert C. Brockman, Santa Barbara, Califórnia. Todos os direitos são reservados.



Andriambelo (Andriambelomasina)
n. 1829 f. 1904
Protestante (LMS)
Madagascar

Andriambelo foi um dos cristãos perseguidos durante o "Período de Perseguição dos Cristãos" em Madagascar (1835- 1861). Visto que não quis renunciar a sua fé, a rainha Ranavalona I colocou um preço na sua cabeça. Foi um dos cinco cristãos de renome que eram chamados de mpivahiny (os que deambulavam) durante a perseguição. Quando terminou a perseguição (1861) Adriambelo e dois outros do grupo de cinco se tornaram pastores.

Adriambelo nasceu por volta de 1829 na vila de Ambatafotsy, localizada na periferia de Antananarivo. O seu pai Razaka pertencia a uma linha de príncipes por parte de Zanadralambo (descendentes de Ralambo entre os reis de Imerina). O nome da sua mãe era Rabodomanitrandriana. Sendo que ele era o caçula entre nove irmãos e irmãs, era também chamado de Andriamparany (o menino caçula). Ele ainda era uma criança quando o seu pai morreu envenenado pelo ritual de tangena [1] e sua mãe encarregou-se de sua educação.

Seu irmão foi um dos estudantes da primeira escola da SML (Sociedade Missionária de Londres). Ele era cristão e contam que ele estava entre um dos que morreram na primeira onda de perseguição que começou em 1835.

Antes de completar quinze anos de idade, Andriambelo não se interessava pela religião Cristã. Em 1847 ele compartilhava o quarto com um jovem cristão, mas como ele não percebia nenhuma diferença entre a conduta deste jovem e dos outros, ele adotou uma postura de "esperar para ver". Mais tarde, no entanto, quando ele viu que o comportamento do seu colega mudou para melhor, ele começou a acompanhá-lo nas reuniões de oração secretas que aconteciam à noite. Poucos meses depois ele formou um grupo de oração com rapazes jovens da sua idade. Ele se reunia durante o dia para ler a Bíblia e para conversar e cantar. Algumas vezes até faziam as suas refeições juntos para não chamar tanto a atenção.

Em fevereiro de 1849 a segunda onda de perseguição começou. Andriambelo foi denunciado porque tinha uma Bíblia e tinha feito estudos bíblicos. Por ser tão jovem a sua sentença de morte foi trocada por escravidão e foi vendido por seis francos, uma quantia muito alta naquela época. A sua família o comprou de volta.

Ao ficar livre, no entanto, não conseguiu achar os seus amigos cristãos que fugiram ou se esconderam. Ele ficou apavorado ao ver alguns colegas cristãos acorrentados e ficou inativo por alguns meses. Mais tarde, depois de achar os seus amigos, o seu zelo pela leitura bíblica e a oração o invadiram novamente. Algumas vezes inclusive ele pregava e os outros ficavam muito contentes de escutá-lo.

Os cristãos lhe convidaram para ser batizado, o que fez em 25 de dezembro de 1849, e tomou a santa ceia. Dali em diante ele participou de reuniões secretas e tomou a santa ceia todos os sábados, essas reuniões aconteciam à noite e continuavam até o amanhecer.

Por seis ou sete anos, Andriambelo teve o hábito de visitar quarto ou cinco casas em Antananarivo durante o dia, para encorajar aqueles que não podiam vir às reuniões porque estavam doentes ou porque tinham medo de ser vistos e reconhecidos como cristãos. À noite ele ia até as vilas e pregava e ministrava a Santa Ceia. Algumas vezes o cansaço o vencia e precisava dar um cochilo na beira da estrada. Certa vez ele quase caiu num poço; depois deste incidente ele tomou mais cuidado.

A última onda de perseguição aconteceu em 1857. Andriambelo estava sendo procurado porque a rainha tinha sido informada que se ele fosse capturado poderia informar os nomes dos outros cristãos. Por esta razão, a rainha Ranavalona I colocou um preço pela sua cabeça. O seu nome era anunciado em alta voz cada dia de feira no mercado em Antananarivo e nas áreas vizinhas. Ele teve que fugir e esconder-se na mata fechada ao leste. Durante o dia ele normalmente se escondia em cavernas, mas quando chegava a noite ele saia para pregar àqueles que moravam às margens da floresta ou ia até as vilas vizinhas. Em várias ocasiões foi quase preso.

Certo dia ele tentou voltar a Antananarivo, mas no caminho encontrou alguns amigos cristãos que lhe aconselharam a voltar, pois ainda estava sendo muito procurado. Ele dirigiu-se ao oeste e ficou escondido por uns quinze dias. Encontrou-se com outros cristãos que estavam em fuga e juntos deambularam pelo deserto por aproximadamente três meses. Eles estavam em farrapos, tanto que os soldados que os estavam procurando nem os reconheceram. Algumas vezes se encontravam com pessoas que não conheciam e se disfarçavam como escravos, pintando os rostos com carvão e barro ou faziam de conta que estavam juntando lenha ou caçando pássaros. Neste período quando ele estava escondido, os seus amigos o chamavam de finoana (cheio de fé), ou masina (santo), mais tarde o chamaram de Andriambelomasina (Adriambelo o santo).

Ao fim de 1857 a perseguição diminuiu e os cristãos conseguiram respirar um pouco. Adriambelo conseguiu esconder-se em Antananarivo. Mas teve uma surpresa ao descobrir que a sua esposa tinha sido forçada a casar-se com outro, pelos seus cunhados. E todos os seus bens tinham sido confiscados pelo Estado. Ele não tinha absolutamente nada. Ele pediu conselho ao príncipe Rakotondradama (filho da Rainha Ranavalona I, o qual herdaria o trono quando ela morresse), e este prometeu protegê-lo. Os seus amigos cristãos o ajudaram e lhe compraram uma casa em Amparibe. Um ano depois, como era de costume, ele começou a visitar, animar e encorajar os cristãos que tinham ficado na pobreza e exaustos de fugir.

Quando a rainha morreu em 1961, os sinos das igrejas ressoaram em toda a cidade. Não para lamentar a sua morte, mas para anunciar a todos os cristãos que eles poderiam voltar, pois a época do terror havia terminado. Os cristãos abertamente voltaram de diversos lugares para onde tinham fugido; cansados, mas fortalecidos pela sua fé. A perseguição os tinha espalhado por todo o país; a rainha tinha de fato ajudado o cristianismo a florescer, em vez de destruí-lo. Soldados cristãos também tiveram um importante papel na expansão da fé. Através deste período de perseguição, nasceu a Igreja Protestante de Madagascar.

Andriambelo liderou o culto de Santa Ceia quando o fim da perseguição foi celebrado no dia 6 de julho de 1863 na igreja de Ambatonakanga. [2]

Logo houve uma mudança de regime e a liberdade de culto foi proclamada. No dia 22 de agosto de 1861 Andriambelo e seus amigos abertamente visitaram a corte do Primeiro Ministro, Rainivoninahitriniony. A rainha Ranavalona II, a qual sucedeu o rei Rakotondradama após o seu assassinato, se converteu ao Cristianismo e foi batizada por Andriambelo. Agora que o exemplo estava vindo de cima, muitos dos súditos da rainha se tornaram cristãos para agradá-la, mesmo que não entendessem bem o que estavam fazendo. Este período foi chamado o período de ebikondry (agir como ovelhas).

Muitas das igrejas protestantes foram construídas em Atananarivo e nas áreas vizinhas nesta época. Sob a liderança de Andriambelo e o seu colega Rainimamonjy, os cristãos construíram uma igreja em Amparibe. Os dois foram eleitos pastores daquela paróquia em 3 de fevereiro de 1862. Andriambelo liderou o culto e santa ceia no dia 6 de julho de 1863 na igreja de Ambatonakanga, ocasião em que a igreja celebrou o fim da perseguição. [2] Alguns anos depois, Andriambelo construiu outra igreja maior, pois aquela não era suficiente para atender a paróquia que crescia constantemente. A rainha estava presente na inauguração da nova igreja no dia 6 de outubro de 1870. Andriambelo permaneceu como pastor daquela igreja por quarenta e um anos (de três de fevereiro de 1863 até 13 de julho de 1904).

Andriambelo era querido por todos e apreciado por todos os fiéis. Era um grande orador e o povo gostava de escutá-lo. Foi um homem brilhante; cheio de fé e coragem. A rainha lhe pediu que cuidasse também da Igreja do Palácio, a qual ela tinha construído em Anatirova [3] como um testemunho público de sua fé.

O Rev. W.E.Cousins que trabalhou com Adriambelo como missionário na paróquia de Amparibe, escreveu o seguinte numa carta para o Rev. Ellis, em 1869: "Ele era um homem extraordinário. O amor que o povo de Madagascar tinha por ele não diminuiu com o tempo. Muitas vezes lhe solicitavam que pregasse perante a rainha em Anatirova. [3] Você já escutou sobre a sua eloqüência e o seu ótimo conhecimento das Escrituras Sagradas. Ele desenvolveu a sua teologia pelo caminho e nas dificuldades. Nenhum pastor o igualou em termos de trabalho, ele era incansável. Pleno de fé, e confiança."

Andriambelo foi um dos pilares do protestantismo de Madagascar. Ele inaugurou a Organização da Igreja Protestante de Madagascar.

Ele adoeceu no dia 9 de abril de 1987. Apesar de estar aposentado, a igreja de Amparibe continuou a apoiá-lo financeiramente até o dia de sua morte, que foi o 3 de julho de 1904. O seu corpo foi levado para a igreja em Amparibe no dia 15 de julho para uma despedida final, e depois foi enterrado numa cripta da família em Ambatofotsy, a sua terra natal.

Berthe Raminosa Rasoanalimanga

Notas:

1. Durante o ritual de tangena, a pessoa acusada de ter cometido algum crime tinha que beber veneno. Se o acusado sobrevivesse era considerado inocente. Se morresse, então esta era a prova de sua culpa.
2. A primeira igreja protestante que foi construída em Antananarivo pelos missionários da SML. Por recomendação de W. Ellis, um missionário, a igreja foi reconstruída em pedra como um memória pelo martírio de Rasalama, a qual foi mantida lá como prisioneira antes da sua execução.
3. O nome significa a área que compreende o palácio da rainha.
Bibliografia:

Richard Lovett, The History of the London Missionary Society: 1795-1895, vol. 1. (Londres: Depósito da Editora da Universidade de Oxford, 1899). Acessível no site da Internet: http://books.google.com/
Periódico Protestante Gazety Mpanolotsaina [O Conselheiro], No. 221, Outubro-Dezembro1958, pp. 2-8.
Periódico Protestante Ny Sakaizan'ny Tanora [O Amigo da Juventude], No. 89, Maio 1964, pp.73-76.
Periódico Protestante Fiangonana sy Sekoly [Igreja e Escola], No. 248, Agosto 15, 1904, pp. 60-61.
Periódico Protestante Teny Soa [A Boa Palavra] No. 79, Outubro 1936, p. 154. Juvenile Missionary Magazine, Outubro 1, 1867.
Pastor Rabary, Ny daty Malaza: na ny dian'I Jesosy teto Madagasikara [Datas significativas nas pegadas de Jesus em Madagascar].
(Antananarivo: Trano Printy Fiangonana Loterana Malagasy, 2004).

Fotos: [1*] Foto de um grupo de pastores com Andriambelo por volta de 1896: (em pé) Rabary, Ramanitra, Rainialijemisa, Rainamanga, Ranitaray, Frank Rasomerana (FFMA), Rainimakaola, Radaniela, (sentados) Rainidamary, Ramaka, Andriambelo, Rahe, Raimitrimo e Andriamifidy. Muitas destas pessoas foram perseguidas pela sua fé.
[2*] MOntagem fotográfica da iregaj em Amparibe, datada em 1861, com uma foto de Andriambelo e outros pastores e missionários. Fotógrafo: Razaka.
[3*] Foto de Antananarivo do oeste. Fotógrafo: John Parrett

Todas as fotos foram repoduzidas dos arquivos da Sociedade Missionária de Londres/Conselho Mundial de Igrejas (CMI).

Este artigo foi apresentado em 2008, e foi escrito e pesquisado por Ms. Berthe Raminosoa Rasoanalimanga, diretora do FJKM Centro Nacional de Arquivos (1984-2007), e bolsista do projeto Luke do Dibica de 2008-2009.  

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