A parábola de Jotão

“Então todas as árvores disseram ao espinheiro: vem tu, e reina sobre nós; e disse o espinheiro: Se, na verdade, me unges rei sobre vós, vinde, e confiai-vos debaixo da minha sobra; mas se não, saia fogo do espinheiro que consuma os cedros do Líbano”
Jotão era filho menor de Gideão. Este, também conhecido por Jerubaal, foi o valoroso juiz que venceu os midianitas com apenas 300 homens e durante 40 anos estabeleceu a paz em Israel.
Após a sua morte, os filhos de Israel voltaram a prostituir-se com a idolatria pagã. Neste tempo, um dos filhos de Gideão, chamado Abimeleque, se lenvantou contra a casa de seu pai e matou a todos os seus irmãos escapando apenas Jotão, o irmão menor.
Revoltado, antes de fugir, ele nos legou esta importante parábola. Vejamos algumas lições que podemos tirar desta narrativa de Jotão:
1ª Lição – Os bons não querem ser reis
As boas arvores (oliveira, figueira, videira), reconhecendo sua missão de produzirem para agradar a Deus e também aos homens, recusaram veementemente o convite para reinarem sobre as arvores (vv. 9-13). Demonstraram que a principal missão delas, ficaria relegada a segundo plano, o que não concordavam. Parece-nos que julgaram ser isto uma vaidade, e estariam apenas alimentando o ego arbórico. Não consideraram o reinado sobre suas semelhantes maior que a missão de produzir. Ao que tudo indica, para elas produzir (fazer) era melhor e maior do que ser (mandar, ser aservido, ser rei).
2ª Lição – O reinado é um trabalho que impede a producao. Disseram que reinar sobre as árvores era uma labuta e não estavam dispostas a interromper a produção para labutar sobre as demais árvores. Este era um trabalho penoso e que não valia a pena. Com certeza pensavam que acabariam estéreis e elas preferiam incumbir-se da obra que sabiam fazer muito bem.
Poderia ser que como “reis” seriam uma geração, contudo como obreiros eram frutíferos, e o labor estava comprovado. Demonstraram: sensatez, humildade e compromisso com a missão que tinham: produzir.
3ª Lição - Há setores da vida que não há necessidade de rei. As árvores convidam o espinheiro. As árvores queriam um rei. Não estavam preocupadas em selecioná-lo, apenas queriam se submeter a alguém. Nem necessidade tinham, pois, cada qual já sabia o que fazer. Cada uma tinha sua missão definida. A oliveira produzia o azeite, a figueira a doçura e a videira a alegria e assim era o sucedâneo das árvores. Mas, queriam um rei. Um rei que reinasse, que mandasse-lhes que produzissem o que já produziam e que abusivamente tiraria proveito desta produção, para viajar em visitas sobre a floresta. O rei espinho nada produz, a não ser espinhos e espinhos não se come, não alegra, portanto suas despesas de viagens que não eram poucas: passagens, traslados, hotéis, arvores acompanhantes, arvores filhas e arvores assessoras (puxa-sacos), seriam pagas pelas arvores que produziam. Tudo isso era necessário, mesmo se causasse déficit no orçamento, pois muitas eram as arvores e florestas que “desejavam” a visita do rei.
4ª Lição - Ser rei é ser espinho
O espinheiro que nada produz, prontamente aceitou o reinado. Parece que os espinheiros esperam a vida toda para reinar. Estão sempre a espreita, como o lobo que persegue a ovelha.
Sabem elas que as boas arvores e que produzem jamais envolver-se-iam com a labuta de um reino, que traz benefícios para a numerosa família do rei, mas torna-as improdutivas, perseguidoras de suas semelhantes e más.
Por isso os espinheiros são oportunistas. O pior é que foram as arvores juntamente com as boas arvores convida-lo para ser rei. Daí, nem poderiam reclamar das fincadas, das espinhadas do espinheiro; vale acrescentar que nem mesmo Cristo se livrou deles, e isto por que Ele, como boa arvore não quis reinar e mais: disse que isto é coisa de pagãos e de gentios; entre os discípulos que são boas arvores, se reina com a produção, com o serviço; “o maior deve ser o menor”, e por conseqüência a boa arvores não tem disposição para reinar.
5ª Lição - O rei está sempre cercado de peçonhas mortais
Os espinheiros são presunçosos e arrogantes. Nada têm a não ser espinhos que espinham, e contudo se exaltam, arrogantemente oferecendo o que não possuem. No caso da parábola, orgulhosamente convidou as súditas do seu reinado para se abrigarem à sua sombra. Uma verdadeira insensatez. Teria ele sombra para as frondosas arvores do Líbano? O que havia em suas ramificações que não espinhos que espetam e faz sangrar como na fronte de Jesus?
O mais perigoso e que as vezes não observamos é que na sombra dos espinheiros estão sempre os insetos, as serpentes e os escorpiões. Eles adoram a sombra dos “espinheiros”. As serpentes gostam de estar à sombra dos espinheiros porque têm características comuns. Ambos são maus, traiçoeiros e vingativos. Os ramos do espinheiro formam um emaranhado que protege as cobras e escorpiões daqueles que querem mata-los para limpar a floresta.
6ª Lição - Um reinado acaba quando morre o rei.
Um rei depois de escolhido, é dono, é soberano e seu reinado é eterno. É até a morte. Pior que, após sua morte, vem o reinado do seu filho primogênito, que as vezes nem é o primogênito, mas o mais esperto. Aquele espinheirozinho que tem espinho que espinham mais agudamente. Tal qual Roboão, filho de Salomão que disse: “Meu dedo mínimo é mais grosso do que os lombos de meu pai”I Rs 12.10.
O que nos causa pânico é saber que uma vez rei, rei para sempre. Ou obedece-se o rei, ou fogo sairá dele que nos consome.
Como o espinheiro só se tornou rei porque as arvores o convidaram para ser rei, só nos resta esperar até que estas arvores tomem tantas fincadas pelos espinhos do espinheiro e, enfurecidas, deponham o rei que elas mesmas constituíram. Todavia, antes do rei espinheiro cair, queimará por sua fúria muitas arvores que o aplaudiram e advogaram seu direito ao trono.
Mas que queime os cedros do Líbano, o que não se pode admitir é a perpetuação do reinado do espinheiro.
Esta é a parábola.
Pr. Olivar Basílio da Costa 

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